16 de julho de 2007

lá fora

chegam-me aos ouvidos doces cantos de sereias policiais
ecoa no ar cinzento a leveza etérea das nuvens
que não descansam os raios da persistência
os néons destroem toda a absolvição possível
da lua encardida pela cegueira citadina
e os pontos negros do céu feio de tóxico
esquecem-se de vir à festa
não têm convite
mas podiam saltar por cima do mundo
para junto de quem já tem saudades
de os admirar na distância inóspita do tempo

são as canções do silêncio as que mais queimam
na ânsia, na chama de viverem fora da jaula
são as canções que não se cantam porque doem
e são as noites que as imaginam
nas solidões avulsas
e nos espelhos vazios de reflexos

as histórias têm finais por vezes
ou então ficam em vida aberta ao engano
e às hipóteses irrealizadas
mas são os finais que cicatrizam
os cortes do papel

na janela que está do lado de fora
o vidro é mais baço do calor
a ampulheta mais apertada
e a avenida não é beco sem saída
os pontos negros estão lá afinal
mas falam baixinho já
como quem não conhece o mausoléu
nem a sua hospitalidade

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