31 de dezembro de 2007

end night

feel this wholly as life,
the numb and the frail,
the night has surprises
cut out from its trails.

line up all the ghosts,
the adrenaline stirrs
even the pouted unknown,
and jilted eyes purr.

foreign words soundtracking
this release from sheets
quilted by fears once kings,
amongst ideals achieved.

a dinner for the princes
of ruined dreams habitants,
the still of night inches
from shattering the pains.

21 de novembro de 2007

ice burn

there is hope the words will be there
to reason against cold silence
or maybe the walls will rise again
but the screams inside have changed anyway
from the muddy banks of the wishka
to the sunny plains of jerusalem
from windows looking on empty roads
to where the souls amiss gather
and sometimes all the languages in the world
would not describe a man's farthest reaches

neon the night alive
so these bones can walk again
burn the streets alight
take the trip to its end

retour

keep talking to yourself
forget you're everyone else
lest the ones driving you
become all of your truths

look for the medication
that doesn't work anymore
take the pills of salvation
leaving you numb on the shore
and bring light to that porch
because i'm coming home

that lump in your throat
and the letters in your coat
and the tears in your eyes
your dellusional drive-by's

the words forget to shout
silenced your fears sprout
the sea is alight on fire
the abyss becomes your mire

drone

before the sunshine
from truths i arise
to the utopic endless abyss
can't grasp anything, not this
hollow interactive drone

voidless broken eyes
belittle all the lies
in the utopic endless abyss
avidly i grasp nothing, not this
fallen forgetful drone

hope cuts like knifes
despair becomes life
from the utopic endless abyss
i would grasp anything but this
stupid lifeless drone

placebo

the shortcomings of my desires
abandon me in your spite
and allow me freedom of fall

don't say the words
and i'll never complain

all the driving lust
empties at the first touch
and seldom have the keys
been lost

now that the vultures slow down
the water flows
and again i drown

the sand can rattle the most
but it warms me
from the inside

wishbone

stripes of smoke curling
mind's gone forgotten
and the intertwined destinies
of apart fecal industries
become rooms emptied
now the sky grayed
and the souls frayed
hold hands alone
far away
and between
old hairspray.
frailty rises insane.

17 de novembro de 2007

news from the outer worlds

not giving up..

regrouping and reorganizing..

assim que puder vou voltar a escrever por aqui com maior assiduidade..

20 de setembro de 2007

a room in rotterdam

lounged moments of well being
in a room with the smaller view
the trees cradle the streets
but the winds rock a curfew
the windowsill thought up
and a sun disappearing nights
a blank stare, broken records
a memory and faded lights
a bridge of iron futures
overlooking emptiness whole
leaps of faith abound here
with burdens of dirty holes
life has found a bitter way
still one full of crowded rooms
around us the hell hounds stray
in the night the darkest blooms

5 de setembro de 2007

partidas e chegadas

partidas e chegadas
memórias remendadas com fios de absoluto
e o vazio alonga-se até ao brusco desaparecer

o bairro nocturno
caixotes do lixo cheio
garrafa de sonhos
e a verdade é nossa

paragem obrigatória
e a mentira ilusória fica para trás
entre o sangue e a carne e o betão

1 de setembro de 2007

morto vivo

as palavras não existem
mas matam na inabilidade

é o sentimento do desespero absoluto
que me encharca a noite
a luz do túnel invisual
mantém-se trémula mas viva
e chega-me para saborear
as lágrimas mais verdadeiras

ainda não inventei as palavras
que te descrevam o vazio
e me mostrem o caminho

afogo-me e sobrevivo
queimado respiro
morto vivo

24 de agosto de 2007

outonos

porque a saudade sou eu
e o remorso vive aqui
a merda acumula sem receio
de abafar tudo

apenas pudesse dizer-te o que és também em mim
sem que para isso metesse os pés pelas mãos
e os meus medos na tua felicidade
que me assusta
porque não partilho

quis um sonho
não o foste
a tua carne e o teu sangue
falaram mais alto
que o egoísmo
que me continua a engolir
o futuro

morremos à nascença
porque de coração morto
me conheceste
apesar das verborreias
que te impingi

e agora sinto-te na distância segura
de quem mais uma vez fugiu
da vida

quero voltar à tua prisão
na esperança do abandono
do peso do meu mundo

7 de agosto de 2007

this abyss

promises made out of little nothings
like the dreams i dreamt wide awake
have nothing for you anymore now
but a grip of sorrow and hell hounds
on your trail

promises made with empty horizons
show off the bard without songs
and the life that has collapsed
left behind too many relapses
to recall

this abyss has meanings
beyond you and me

promises emptied floods whole
and destroyed the holding cells
only to raise new walls crimson
of blood cried in souls amiss,
lost in hell

this abyss must have a meaning
beyond you and me

5 de agosto de 2007

preto e branco a cores

as cores devaneiam pelo meio do álcool
e não me abandona esta sensação
de entorpecimento permanente
reflexo óbvio do abuso da introspecção
alterada pela substância dionisíaca

as cores viajam pelas nuances
e ensinam-me novas palavras
para as descrever no monólogo

as cores preenchem-me o olhar
fechado sobre si próprio
não sem apelos variados à comunicação
menos monocórdica
e menos suja de discórdia
entre verdades aceites e não aceites

as cores dançam porque é isso que elas sabem fazer
entre o som e o silêncio elas encontram o seu rumo
sem o ter perdido..

as cores conhecem-me bem
longas são as histórias partilhadas
em carnavais e funerais
imaginados ou apenas reais
sempre têm palavras para mim
nem sempre as que procuro
mas sempre as que perdi

as cores vão morrendo na névoa
picam o ponto e dão o seu lugar
aos cinzentos
que também são cores mas menos livres
sindicalizadas sem direito a loucuras

as cores abandonam-me
na altura em que mais necessito
que me abandonem
sem me sussurrarem adeus
mas até já

as cores ficam sempre
mesmo depois de partirem
fazem-me parte delas e nelas já tanto vivi..

zeca medeiros - maria

quanto mais não seja, boa música não pode faltar por aqui..



uma das minhas preferidas do grande zeca..
directamente dos açores..

(título apagado)

as palavras soltas
com ordem para matar
procriam ódios
e não deixam a vida
acontecer

seria entre essas palavras
que estarias
se as rédeas fossem soltas
mas destruí os evangelhos
de quem não tem verdades

e agora na distância
que ambos conhecemos
não nos reconheço
apenas ficou o hábito vazio
e o esquema da solidão
que fugiu de ti

a lua esvaziou
e a noite ficou mais escura

drive

roads open up before me
mean nothing without you
all the ghosts i carry
try to kick you out
but still you hold on
gripping the wheel tight
i told you twice already
give me up for the night
and maybe you can still
speed away unscarred

leaving the night behind
past the pain and the skies
drive away while you can
feel anything for me
it won´t last

a passenger of my fears
a ticket without destiny
i said you wouldn´t find
any more fuckedup ids
than inside this one mind
that death has caressed
so many, too many times
have i stripped and dressed
the frail veils of sanity
to the ends of you and me

leaving the night behind
past the pain and the skies
drive away while you can
feel anything for me
it won´t last

disappearer

tolls of the darkest smoke
pine through broken souls
without hesitation or hope
swirl away, becoming holes
in which i hide and become
one with voids unimaginable
expurge prayers, and not one
can know the depths i´m able
to sink into
disappear to

too somber
not even a glimpse
can awake it now
and the ropes are cut
and the veins are open
and nothing will ever be the same again

you know running is my own game
why do you insist on playing it?
if i were choking on my own chain
would you still try and break it?
and if the tides came to save me
would you dive in and embrace me?
if my world were my head´s making
would you still want to live in it?

the sky opens its arms
and you know i can´t refuse
to let go and disappear

28 de julho de 2007

nick cave and the bad seeds - as i sat sadly by her side



para quê mais palavras?

intro/outro

aceleração repentina
trip paranóica emoldurada
por latidos surdos
impulso animal

areias ondulantes

garagem de esquema
mohammed qualquer coisa
alarve de viagem
sentimento qualquer
e espírito incerto

ansiedade nostálgica e estrangeira
o espaço como perdido
alucinação

doom..

perfeição
renascer assim sem o esperar
e algo diferente encontrar

outros ritmos e latitudes
o ambicionado destino tão próximo
e em simultâneo temido
porque existe

de novo a angústia insuportável
e raios de esperança
jorram-se a mim

a melancolia envolvente
não esconde as dúvidas
sobre o propósito
mas o épico nasce
e toldado encontro-me
não de surpresa sou capturado

aterragem adormecida
sem perguntar o caminho

26 de julho de 2007

pedaços da fuga

as luzes soltam-se como acordes de piano
e o murmúrio da minha voz suspende-me
o plano era a fuga mas desencontrámo-nos

o holofote foca-te e assustada olhas para dentro
nada vês além do vazio
que me conseguiste impingir também
em mútuo consentimento
mas os cães farejam até os medos inconfessáveis
e o teu vestido que te ficava a matar-me o olhar
e os sentidos
jaz desprovido de carne

no arame farpado me enredei
e não mais saí
esquartejado, em gumes de sangue me esvaí

2+2=5

são os sentidos que se apagam
quando a bobine desfila sonhos
e é essa coisa-alma, acesa por dentro
que ilumina aquilo que resta dos escombros
que ficaram, sem rodas nem lagartas
para os ultrapassar,
rastejo como um verme
mas não me sujo
as minha mãos estão limpas
e o cabelo livre do sabão queimado

não percebo o esperanto desta jaula
nem porque me falam nisso
enquanto a babel cresce sem pausas
regada por sóis quixotescos
que não vêem o que irradiam

paradoxo do winston de orwell
derrotado à nascença
é a negação da carne que me entrega
nas mãos do partido

e sim, digam as palavras
o que desejarem,
dois e dois sempre serão cinco

nine inch nails - march of the pigs

porque me apetece partir tudo :P





puro génio narcisista..

25 de julho de 2007

interpol - the lighthouse

o vídeo é o que é, vale pela música.. e vale muito..




para apreciar fora do tempo..

influenza

a jam with my own mind, together racing at the prize
into a golden myth in stone that darkens whole in time
recesses spill Munch´s lust for the horror inside
and Lynch´s throwing me poetic dimebags in abstract textures
light and sound united against reason
leave for the interzone where everything has a feel
and the agents of orange become one with reality
dance alone from reaches unknown by no man alive
those rapa-nui had it all, both space-time and will to take the veil unwrapped
i tackle the white ones and write it on the wall
afective interventions spill out from the spray and the gray becomes frail
under the bright lights, colors that tell stories unbound by any knowledge
the cave leaves me in awe, industrial mesh of raw
seeds of life in tow with art as centerfold
and a german madman empties verve and soul into the blank of god
he dies alone but whole
the junkie king torned between a world of his own and the one which is sold
like the 101 in us
happy when it shows up, along this void we built with smiles and glitter, again and again frittered
smoke a thousand cigarettes, still life finds a way
inhale millions of words,the damned will find a way
and the lizard awaits with a scotch embedded in sweet mescaline
pure and dirty boots shredded from roaming eternity..

22 de julho de 2007

nós

insanidade ocupa-me
o tempo livre
os tremores
faz como se não os visses
faz de conta que está tudo
como deveria ser
a natureza nasce comercializada
o homem finge o sonho
na luz negra da pastilha
e nós existimos

nós

como se isso me fosse possível
agarrar o externo sentimento
e dele fazer algo inteligível
palpável
sistemas imunitários
paralelos e perpendiculares
que se destroem
na ausência da carne
e na ausência da alma

não sei como sentir-te
de outra forma
sem sangue a palpitar
entre o nosso espaço
que se dilata
e se escoa no tempo
da minha cobardia

20 de julho de 2007

diário de um tasko-dependente, 3

in taska raska


agarro o vinho e fujo
esta vida que aqui levo é minha!
grito no desespero da lentidão
de quem se sente preso
antes da fuga

mas o dia é também meu
pois consigo com o néctar escapar
e a balbuciar coisas sem nexo
verto nos lábios a esperança
de um filme diferente, com final feliz
sem estrelas secundárias
a interromper o monólogo

sentado já na ressaca
da permanente secura de bêbedo
incendeio um cigarro
com a alma ainda em ferida
mas a cicatrizar
olho pelos cantos do fumo
e não vejo tristeza
a navegar perdida
adormeço e regresso
ao cais da partida

18 de julho de 2007

passeios

cambaleio e dou por mim no passeio, do lado contrário da estrada.. como vim aqui ter? não me lembro de fugir aos carros que passam velozes.. foi o desconhecido que me chamou entre nuvens áureas de sonhos perdidos? ou o esquecimento caído na garrafa?

olho para trás como quem procura o passado, mas não reconheço o caminho desaprendido na mitigada névoa alcoolizada.. os vómitos antigos chegam-me ao olfacto destreinado e fujo de mim novamente.. cambaleio por este novo passeio, sem saber onde vou, apenas de onde fujo..

o sol não me acorda ao despertar a cidade carente de vida.. o beco onde descanso é estéril de outros seres menos rastejantes e ouço as vozes ao fundo dos olhos fechados.. não falam de mim mas de gente, essas coisas que julgo ver pelos cantos dos olhos, fugindo também mas noutras velocidades e direcções.. tento levantar-me e caio..

está vazia a alma que bebi avidamente, num torpor demente, sem conseguir enganar o legionário guardião.. o sol queima-me a face e a mente desligada vislumbra razão, por instantes alucinados e assustadores.. a violência desmedida da memória leva-me de novo à estrada.. e novas memórias nascem..

...

vítima e carrasco, agora é ele quem cambaleia noutros passeios..

16 de julho de 2007

lá fora

chegam-me aos ouvidos doces cantos de sereias policiais
ecoa no ar cinzento a leveza etérea das nuvens
que não descansam os raios da persistência
os néons destroem toda a absolvição possível
da lua encardida pela cegueira citadina
e os pontos negros do céu feio de tóxico
esquecem-se de vir à festa
não têm convite
mas podiam saltar por cima do mundo
para junto de quem já tem saudades
de os admirar na distância inóspita do tempo

são as canções do silêncio as que mais queimam
na ânsia, na chama de viverem fora da jaula
são as canções que não se cantam porque doem
e são as noites que as imaginam
nas solidões avulsas
e nos espelhos vazios de reflexos

as histórias têm finais por vezes
ou então ficam em vida aberta ao engano
e às hipóteses irrealizadas
mas são os finais que cicatrizam
os cortes do papel

na janela que está do lado de fora
o vidro é mais baço do calor
a ampulheta mais apertada
e a avenida não é beco sem saída
os pontos negros estão lá afinal
mas falam baixinho já
como quem não conhece o mausoléu
nem a sua hospitalidade

valhalla em fuga

o tempo esquivo corta paisagens anónimas
na viagem para um lugar longe, longe
um outro lugar onde a fuga parece possível
e onde as lâminas cortam mais à flor da pele
onde a vertigem não assusta nem teme
a queda

aquele sítio nosso que não conhecemos ainda
mas que desejamos ardentes
como a vida que se desenhou
nas possibilidades infinitas
que não tiveram lugar
entre os medos autistas
e os sonhos desfeitos
mas que a malévola esperança
diz ainda a pulmões cheios
e menos nicotinados

é esse o destino que se mostra, sereno
quando dele não me escondo

13 de julho de 2007

jardim nocturno

é lento o desenrolar da noite
como num pêndulo partido
desconcentrado de mim
pela enésima vez
mentiras!

absorvido pela sordidez
e pelo recato do intelecto
não passa por aqui a busca
de outra coisa que não
o estupro da alma

sinais
apocalipse suicida
as térmitas passeiam livres
sob o corpo desistido
e os sinais cegos

a metempsicosis do ego terrorista
frustrada

desconhecimento de causa
dessa vida heróica
sem falsas contemplações
nem anódinas masturbações
egocêntricas

há causas que se tornam efeitos
quando o medo passeia sozinho
de mão dada com a raiva
e é nas horas do jardim despido
que as sebes desmoronam
o labirinto imberbe

os portóes cerrados
escondem o contrabando declarado
na cobardia muda

chega a luz que nada altera
depois de noites todas
numa só

12 de julho de 2007

carta

abrimos os nossos mundos um ao outro
escapa-me ao controlo que o meu esteja mais repleto de coisas feias e mudas
não é razão para que me mostres os dentes rombos
como se a dor por eles não perpassasse na mesma
diz-me o quanto me queres ver desaparecer
para que o faça de uma vez por todas
e num instante repentino destruir este limbo
que me enlouquece a velocidade de cruzeiro descontrolado
não tenho armas nem táctica para esta batalha
nem quero este inimigo
o silêncio devastado
a minha distância apocalíptica
neguei-a por ti e agora sinto-a ressurgir
no fumo dos corpos abandonados pela incoerência
das verdades engorduradas pela mágoa
que escorregam céleres entre os escombros
ninguém sai impune da vida

no alpendre

a fuga possível de nós
estreia de novo alpendre viajante
onde nos encaracolamos
e dizemos adeus a coisas
que não mantemos
disponíveis

é a manhã cósmica
que nos vem adormecer
e deitar entre estrelas caídas
e outros astros esquecidos
nas ânsias de movimento
que nos assaltam os corpos
uniformes civis

e o sorriso falso das inverdades
não nos disturba o sono
nem nos torna menos real o sonho

são histórias reportadas
pela alma vazia
do rufar dos tambores
ancestrais

viagens..

faca anónima de gume triste
as palavras magoam a saliva que cospe cega
e corta o vazio entre nós

é o desencontro das almas afiveladas
a sorrisos amarelos o que mais dói
e mais o nada acerca

estou aqui mas não existo
e o sangue não me fala
e a carne enganada pela mentira
do silêncio
está casebre demolido
de bairro social
habitado por junkies obliterados
e de memória falha

vilão do meu próprio filme série b
marginal a cinzento
terceira cor do binómio
e negociador da paz podre
entre o ódio e a raiva

e o barco negreiro
que não se afunda nunca
corrói-me o esqueleto esponjoso

são miragens que matam
oásis peneirados de água
e dunas entrecortadas
num horizonte bem próximo
de casa

11 de julho de 2007

dentro do exterior interno que queima

sorrio e aceno olás e deuses
siameses na indiferença
..as entranhas queimam no gelo..
sinto-me bem, perto de ti
estou aqui bem
este sol é agradável
..o diálogo cauteriza o sentimento inerte..
vamos fazer qualquer coisa
para despedir esta apatia
e dizer olá a novos dias
..mas este sol não desaparece para sempre no adeus simples e conciso?..
o movimento significa
quando a esperança
é toda
e a coisa-alma
é algo
..morri em tudo que não fui..
mas a vida torna-se uma cólica
o intestino esbraceja
e os parasitas são cegos
..sorri a tudo o que não fui e morri de velho..
estamos por aqui
o rio parou e abandonado
o barco vomitou gente
que não sabia nadar
mas salvaram-se?
..o caixão cor de cinza e espessura de terra morta..
aqui ficamos, orgulhosos
do que não aprendemos
..a brisa solta-se amena e o mar acolhedor é meu..
os anjos ejaculam na nuvem
sémen estéril e gasto de uso amorfo
o relógio marca a hora menos um
e saltamos de novo para o barco
sem leme nem estibordo
nem estrelas que alumiem
..o céu chama-me e subo leve, ícaro renascido no esterco do fim..
juntos nascemos

10 de julho de 2007

cocktail

vertem-me pelos olhos adentro
as cores invisíveis
que te anunciam
alto e bom som
és jazz e blues
e música experimental

vampiro da pele
os caninos sedentos
esfolam palavras verdades
e apagam o dicionário
à luz do medo

letal o cocktail
porque demasiado verbal
na ausência de diálogo

relógios parados

desvanecido num mar de coisas
pilhagem frustrada do absoluto
que se almeja

são os gumes rombos
que sangram
nada

são os ecos
que enchem o cálice

partido

os relógios parados
e o puto revolta-se
mas não sabe
o que é isso, a revolta
apenas a fuga

a preguiça do fim da inocência
rolamento partido
a roda rola no vazio
e chia alto

9 de julho de 2007

némesis

nem consegues já olhar
o nojo que és
falas na terceira pessoa
como se fosses um insecto
que desejas pisar

sou eu
a tua némesis
o teu sonho acordado
aquele de quem foges
na luz acesa
e a quem no escuro
te entregas

as caixas formatadas
a fita cola
olham para ti
e desfazem-te as entranhas
no medo da permanência
e no olhar esgazeado
do desespero

é o vento quem te salva
por instantes
mas é apenas na noite
que existes
e és..

sim, sou eu
falo-te para que não te esqueças
da promessa que a ti fizeste
de nascer

haiku primaveril

o sangue nasce
a carne fica, pára
impune, sorri

deus calado, vê
não chora pois os mortos
vingam os vivos

a terra cinza
e o céu abre falhas mil
adorno a fuga

jaz vil a razão
a tempestade fiel cai
falsa memória

apago os olhos
a mente voa sem nuvens
morro sozinho

8 de julho de 2007

dicotomia do ser

és o cancro
que tudo destróis
qual parasita supérfluo

és o poço
onde o amor cai e desaparece
e a razão não tem razão
nunca

és terra estéril
por onde o vazio
vai semeando nadas
e colhendo ódio

és a merda do mundo
repositório de ti mesmo
e daqueles que com fervor
inexplicável odeias

és o lixo que pisas
sem olhar o chão

és isto que olhas
no espelho rachado
pelo grito que nunca saiu
e que vais remendando
com os dedos em sangue

és orgasmo fingido
coito interrompido

és o amor esquecido
que te foge
sempre que corres para longe

és o nada que temeste
que te apagou o pensamento
e abreviou os sentimentos

és este pouco
que nem reconheces já

6 de julho de 2007

noite fora

é a queda do absinto
que me faz ver
cores que são só uma
noite de algazarra e perdidos
encontramos caminhos novos
por onde nos perder

clandestinos da vida
e heróis de filmes a grão
ladeiam as entradas
por onde saímos do frio
e da maior solidão

as janelas que nos olham
e nos bebem a cerveja com os olhos
estão lá!
fazem parte da pintura
e dos pintores
e da noite por eles traçada
a cores e música e vozes
e álcool

e é dioníso
quem nos dá a mão e nos guia
para não nos perdermos

tempestade

a neve afunda-me os pés
e o hálito quente não me chega
para esta noite enterrada
num caixão atraente
mas desprovido de sentido
e nem a lua distante me dá guarida

é perdido no meio do frio
e dos pedaços de vazio
que me molham a face seca
que avisto o teu telhado
e o teu fumo espesso e quente

não tenho a chave
encosto a minha alma â porta
mas o peso ainda assim não chega
para derrubar a liberdade
que carregas no calor
do sangue

arranho e desespero
esmurro o medo
mas ele não quebra
esperneio e esbracejo
estou surdo e cego
para a lareira que queima sem o amanhã
da minha cegueira
e da minha surdez

fico mudo â janela
como quem espera
pelo placebo

o reflexo no vidro
não me responde
ao que não pergunto
e a neve cai molhada

4 de julho de 2007

os putos

os putos roem o tempo
e galgam o mundo
cozem ressacas ao sol
passageiro
e os instrumentos que tocam
são mudos

na esquina de uma vida
à espera
da rua larga que não chega
da viela conhecem os recantos
e as sombras
e os vizinhos quentes
e comestíveis

a lua acompanha o sono
descoberto do manto da esperança
ou o oleado é fatal

os sonhos não passam da ombreira
e matam de esguelha o presente
e quem não vê?
e quem não ouve?
somos nós que vivemos
e somos nós que esquecemos
porque não temos a força
dos putos

saldos

o açaime arranha-me
tolhe-me os movimentos
e os amanhãs

é tortuoso o labirinto enfrentado
e tem raiva de quem lá entra

a alma está em saldo
mas ninguém compra
nem quem por lá passa
e gosta do que toca e vê

as cores são poucas
mas as tonalidades infinitas
o modelo está fora de moda
e não cabe na realidade

enfentado o medo
o que resta?
o vazio completo da derrota
ou o sabor do nada?

3 de julho de 2007

soltas à beira mar

o mar está pacificamente revolto
anátema familiar
a rede não capta porque vazio

...

não necessito ler-te o olhar
apenas aperceber a fuga ao horizonte

o teu amor espraiado

neste lugar estranho
que habita a minha alma
e que vieste ocupar sem renda
nem prazos

estava prestes a enfrentar
aqui e orgulhosamente só
a bola maciça da destruição
sem retorno

o devoluto coração meu
desabou no espaço vazio
que em ti encontrei
e agarrei

o jornal não me dá notícias
a televisão avariou a vida
a música não saboreia
a solidão

apenas o silêncio ofuscado
e o branco que escureço
me dizem o teu amor
espraiado

débil verbal

esse desprezo que sentes por mim
nasceu onde?
da desilusão?
não que eu não conheça já esse olhar
mas não o pensei ver em ti
tão cedo pelo menos

a cobardia da escrita
em vez das palavras
compreendo-te afinal


arquivo ?

mas

contido em todas as histórias
que merecem ser contadas
existe um mas
inultrapassável este?

fica a questão assim no ar
à espera da resposta que não conheço

as duas pedras que se acordaram
com o nosso encontro
reencontro?
menires esverdeados do tempo alheio
que se lançam na correria da vida
redescoberta
descoberta?

presságio de coisas finais
e repetidas porque não sabemos
como não fugir

seria bom no entanto
que tudo ultrapassasse
o domínio da habitual alucinação
e algo tangível surgisse
do nada que eu criei
do nada em que me tornei

estados de espírito paralelos
para que me amas quando me odeio?

the ones that get stronger

driveway of my desire
always u-turns not found
can´t turn back from you
past mistakes inside abound
still can´t learn anything
is it a dream? is this real?
always more songs to lament
cut the sound change the reel

the songs that are never sung
the words that are never spoken
the hearts that are always broken
are the ones that get stronger

pathway to a forsaken land
a romance to get lost in
still wounds are never mend
and the romance dies within
i still can´t seem to learn
you´re a dream are you real?
always this fucking lament
kill the sound burn the reel

the thoughts that are never free
the heart that´s always in me
the songs that are never sung
the words that are never spoken
my heart´s always the broken
and still i can´t get stronger

cantilena

tardes noites dias sem fim
nesta manhã nevoenta
mais um dia que não passa pela alegria
e felicidade de sentir algo
perfeitamente bom
sem merdas sem dúvidas
sem porquês
a paz portanto

o rato que rói a rolha da garrafa..
cantilena foda-se
outra cantilena que não esta
preciso de nova banda sonora original
para o género terror da prateleira
a que volto vezes sem conta
mas não fico sem cartão?
não me barras a entrada?
ensina-me novas canções
por amor

verde curto

és verde e pareces uma boa queca
esse cabelo curto e essa voz descompassada
e sumida a pedir-me lume depois
da mútua observação em passo apressado
estás a fumar aguardas algo parece-me
levanto-me ou escrevo-te na distância
um elogio e uma pergunta são técnicas
que aprendi na já longínqua infância

...

levantas-te então de repente e nada fiz
e entras no vermelho que vestes por fora
esse teu corpo que era doce chamariz
tem travo amargo da eterna demora
quem sabe se nos vimos pela vida fora
sei que te fodia assim sem mais pensar
difícil mesmo é arriscar uma derrota
vida torta que me deixa a divagar

miradouro

a percepção que tenho é a da raiva
omnipresente e sempre crescente
a vida que vejo para trás engole-me
o futuro que fiz por manter ausente

não serás tu que mudarás o presente
o céu encoberto deixa-me um espaço vazio
que agarro e mordo com unhas e dentes
a tua lembrança esconde-me ainda o frio

mais um cigarro que me saliva o palato
e mais um dia que nasce sem mais porquês
as torres distantes perguntam-me o olhar
mas não sei porque da melancolia à mercê

aqui neste meu miradouro que já foi nosso
nem que por instantes nunca compreendidos
a batida e as palavras a cuspirem sangue
ao meu juntam-se quatro corações fodidos

o meu teu nosso anel esquecido na pressa
de quem salta do sono para o pesadelo
a estufa aguenta-me o olhar sempre baixo
o céu encoberto cola-se agora à pele

mais uma vez arrisco olhar o horizonte
o que vejo mata algo profundo dentro de mim
não será este o caminho possível da salvação
os demónios que usam esta alma dão-me o fim

in the shades

the hallucinogenic power
of the honey we force
upon ourselves, it just
empties itself, and strokes
a chord upon the shelf
look at the horizon
and see what´s not there
wallow deep in the poison

swallow the pain and fear
the accidents we parry
still scar the interior
and mistakes we carry
will take us far deep
upon the growing hate
hide it in the shades
live it in the shades

straight out to kill it
no more holes to stay in
straight out to kill it

1 de julho de 2007

tu

nunca imaginei conhecer alguém como tu
não é em vão que em ti perdi a razão
e qual coisa estranha que se entranha
e toma conta deste ser como uma visão
alucinada e drogado em ti como estou
o discernimento a realidade apagou
és vida alma sentir e tudo em mim
em ti procuro dos meus dias fazer fim
completa sensação de conhecimento
mútuo e perfeito esclarecimento
da razão da respiração e do coração
ainda bater com força e tesão
renovada apoderado pelo teu cheiro
e olhar e saber e tocar estou cheio
de ti e dessa alma que me toca e renova
e sem dificuldades a minha prova
não te sei dizer em poesia pura
o que te amo e falto e ainda dura
este sentimento apercebido cedo
e em ti esqueço o eterno medo..

the songs in my head

the cars swerve by me
i´m lost and free
in the absence of dreams
i found serenity
found peace and comfort
deep within oblivion
i´d never thought it
just had to find me

fields of emptiness
surround my mood
and there´s not a chance
anything will ruin
this reel of becoming

the wretch i became
won´t ever find me here
this space of neon blank
is mine and thoughts free
tall lights of dark
still linger about
but the moment i wake
for the empty i´ll shout

fields of emptiness
surround my mood
and there´s not a chance
anything will ruin
this reel of becoming

all the songs i hear in my head
are within me since i was dead
the moment i wake up from life
once again they´ll be there
and the music plays on my birth
the words wake me from slumbers
feelings disappear just when
inside comes creeping death

all our time disappeared

the one paradise we lost
won´t come back anymore
we knew we had to be strong
but choices became so wrong

we fell prey to the anger
buried deep in our hearts
and all the hunter´s envy
doomed us from the start

so don´t come whispering
words i don´t wanna hear
all our time disappeared
in the mire of our fears

the paths now that we choose
will stray us from our loss
and the memories we lose
will act as a sour cost

the salted seas left behind
and the candy left in you
will be nourishment enough
to overcome being the fool

so now don´t come restoring
portraits i don´t wanna see
our time has disappeared
along with broken dreams

distance became such
an easy burden to bear

sem título

és a chama que me alumia a alma
bêbeda nessa calma
tresloucada de opiácea alegria
que contagia
e devaneia
e este fogo ateia..

30 de junho de 2007

o que não tenho palavras para dizer

volto a ti em mais um reencontro
do ponto g do afecto
e deste amor estranho sem definição possível
que nos reune

és alma que me prende
mesmo que a minha vontade fosse outra
a fuga impossível e risível
pois as minhas forças não chegariam
para te ultrapassar no coração
reanimado

és fado e destino
cantada nas palavras silenciosas
do branco tranquilo e desafiador

és tudo o que não tenho palavras
para dizer
e és algo profundo no meu ser

olho-te agora no teu desconhecimento
e sereno porque familiar o sentimento
trago-te dentro de mim

esplanada

o sol não me chega para te iluminar a ausência
a tua oferenda queima-me a pele branca
cicatrizada no vácuo
a caixa amarela da solidão acompanhada
olha para mim com olhos carentes
agarro-a mas não me desfaço dela
o piano já chegou à hora morta
e como desejava que o ouvisses como eu..

o viaduto não me dá descanso ao olhar
mesmo quando na sombra o pouso
para não ver mais
a multidão já forma um círculo
perfeito na invasão
e o tango surpreende-me inesperado
no esperado fim da minha viagem autista

são estes os teus momentos que não partilhas
longa pausa analítica na procura de percepções
e ainda assim o peso é demasiado para as palavras

permanente

estas lajes que piso
o ar sujo que respiro
a paisagem em movimento
num retrocesso lento
a criança abandonada
num instante feliz
os ratos na estrada
no futuro que perdi

o relógio incessante da fuga dos tempos
introspecção cauterizante dos muitos lamentos

o som lascivo da esperança
e a tentação latente na dança
da macabra pequenez insensata
que a sombria mente não dilata
ou os olhos abertos ao coma
ouvidos surdos ao dogma
à bílis dar sentido lato
em cada único retrato

o sentimento escalpelizante dos tormentos
num fundilho emocional que escorre lento

foder tudo num instante brutal
e a massa odiosa tornar banal
esgueirar as palavras na música
e do verbo fazer músculo
desejo de abraçar o caos
ou libertar a psicose
das vísceras libertar o mal
e tudo destruir com a morte

o ódio como pano de fundo desse tempo
que me suga o tutano da eterna dor latente

29 de junho de 2007

no shields

the road opens
the sky smiles to me
the wind beckons me to restart
fifth gear and there we are
ride free on autobahn 66
riding free on silent dreams
of futures yet to become
sky road and we as one..

paralysed

history repeats himself
blind and deaf from the start
he doesn´t see himself
amidst the hate in his heart

he´s oblivion bound since birth
the bluest reaches await him
the fear blinds him his worth
and the pain deafens within
to the cries of his dying soul
never again will he feel whole
since the loss of a lifetime
of memories his chest never wore

how can he be one again?
how can he feel no pain?

sad child

these beautiful green eyes
reflecting on those of mine
are you a serial killer?
or lying on the soft side?

tell me how to know you
cause these gasping breaths
on your sight, they slow
my heart in your steps

innocent and sad child
how can your eyes be so lonely?
how can they look so old?
how can i turn my heart so bold?
as to enter you sad child

never thought to find you here
this of all forsaken places
amidst the coffee and beers
shine amongst faceless faces

so quiet and yet so alive
smile that sunshine smile
just for me, you know that
in the end you´ll be mine

do you feel the wind coming?
bringing hope to soft hearts
strings of time bind together
once just worlds apart

demência nocturna parte II

onde estás agora que tanto preciso de ti?
algures na merda que mais uma vez fiz?
ou já no esquecimento que me envolve o lar
da mente distorcida?
os gritos atormentam até a mente mais sã
o que dizer da demência que aqui habita?

onde está o sentimento de osmose
que partilhámos na nossa simbiose?
e era nossa

ou a proximidade do nosso afecto
que sem esforço fodi como o resto
que me deste antes mesmo de to pedir?

onde estás na minha ânsia de partilhar
este momento meu?
teu porque to quero dar
e porque comigo lutaste

...

o desmembramento habitual da realidade instável
o esforço demasiado da semi normalidade
colhe os frutos mais negros
e desaba

a raiva não é em vão
opressiva
negadora do medo porque não deixa espaço
o conforto de desligar as sinapses
toma conta de mim
e alheia-me de ti

a luz negra que não ilumina

hematoma amnésico
caixa embalada na formatação
prédio destroçado
na ruína do passado esquecido
folhas caídas na primavera
do desespero
e do desprezo

as ligaduras começam
a falhar o som
e as palavras

o curativo esquece
o sangue seca
e as veias murcham
o metal toma conta
do pensamento
e da língua
viperina porque inerte
o fel substituto
da razão

e porque não ligas
as feridas
é possível que esteja já fechado?

entra
está aberto
mas olha onde pisas
a areia é movediça
e está com fome
de algo que seja
vivo

o aviso é breve
nunca ninguém aqui passou impune
e a lua não descansa

naufrágio

silêncio forçado
utopia enganada
atrofio seleccionado
peito cansado do nada sentir
anseio do teu toque
da tua chama
não nego, a tua cama
chama-me
dama da minha alma
essa tua calma
que queima e sufoca
e me provoca

o desejo move-me
contra ti
contra nós
as paredes asfixiam
a música não esquece
isto não adormece
não desapareces
vísceras
razão
sentir
alma
karma

foda?
não
tu é que não vês
porque não mostro
nem a ti

mas a distância é real
foco assustado
na dimensão brutal
da loucura
e do medo
os ratos fogem
agarro-me ao fundo
e desapareço

26 de junho de 2007

o nosso (...)

o teu abraço apaga-se
na intensidade final do fim
e esses beijos fugazes
deixaram marcas em mim

o nosso (...) é estranho
sinto-o quase um engano
falta-me apenas descobrir
qual de nós está a mentir
no abandono tão difícil
de uma condição servil
a um coração quase senil
que ladra em vão no canil
desespera pela injecção
que a liberte da solidão
conhecida demais em mim
escondida bem dentro de ti

era aquele teu abraço
tão característico o traço
o (...) aquecia-te o corpo
o beijo sumia-me aos poucos
mas a distância chegou
e o nosso (...) pisou
e agora sinto o vazio
que a puta da vida pariu
e a raiva ainda cresce
o desespero floresce
mais sete dias passaram
as nossas almas contaram
na esperança da diferença
do fim da minha doença

25 de junho de 2007

o porquê das palavras

é a página branca ameaçadora
porque me conhece melhor
que o meu eu consciente

e és tu que me olhas
por dentro do meu karma
fodido e mal aceite
de coitado sem cair de maduro
do pedestal que odeio
porque meu

e sou eu que te olho
sem ver o desesperado
reflexo do desassossego

e é o negro confortável
porque castrador da acção
e do risco e da perca
e de qualquer coisa que não isto
que vês e não aceitas
porque amas mais

e é a realização lenta
inevitável certeza de ti
dentro desta alma
que pões a nu (quase)

e é o mundo nojento e belo
que não vê o que sangra
pela ferida interna
desligada da tomada
do suporte de vida
do coma

e somos nós
sem palavras porque as consumi
no interior escavado
pelo silêncio de quem foge

e somos nós no palco
da minha dança macabra
com a vida

23 de junho de 2007

estado de alma do dia

não tão negra a alma hoje..

a culpa é tua, sabes?

já era tempo do guardador da minha alma ser outro que não eu..

adormeceste-me

adormeceste-me..

junto a mim fugiste para os teus sonhos
onde espero encontrar-te

catraia adormecida
pequena e frágil
mas tanta vida nesse coração viajado
e nessa alma estranha
volátil

branca negra cabrita
saltaste para onde não te esperava
onde não esperava já ninguém
da cerca que ergui fizeste gato-sapato
e sem o quereres
sublimaste o vazio

dorme..
eu descanso em ti..

21 de junho de 2007

os amigos

lá fora o sol sorri amarelo
mas aqui no conforto subtil
dos bancos corridos pelo tempo
a companhia da melancolia
é mais um copo vertido

os amigos
apêndices necessários da vida vivida
e os copos que se confundem
com os cigarros muitos
e as conversas em velocidades variáveis
adormecidas ou a fugir à multa
ou ainda em velocidade cruzeiro
no hábito dos ritmos conhecidos
e dos caminhos familiares

na tasca
noites cheias de dias distantes
recuerdos das férias de um presente
nem sempre disponível para mais
um moinho que se ambiciona
para lá do adamastor assustado
ou uma parede branca de tantas estórias
repetidas na saudade de outras cumplicidades
ou as estupidezes que se aceitam
porque fazem parte

ou os nomes que se conhecem no silêncio
e os que ficaram para trás porque
a vida foi mais forte
e ainda os que não couberam
no futuro de que falávamos
quando fugíamos para longe

os que se descobrem nos escombros
da batalha-vida
e que nos redescobrem para nós
quando já o esquecíamos de fazer

a todos eles levanto o copo
e bebo uma garganta cheia
de passado, presente e futuro
e mais alguma coisa que por aí surja..

19 de junho de 2007

as horas

as horas do desespero não enganam
são sempre pungentes sem amor possível
apenas os olhos vivem no mar dessas horas vidas

o brilho negro ofusca a paisagem distante
do sentido dos afectos
e o id sufoca o real
que sobrevive das aparas vermelhas
que correm lentas

terra queimada pelos passos do monstro
de nome sussurrado no sono
de que se foge em constante delírio
para que nomes?

o grito que não sai
as palavras que ardem
as águas que se fecham na vergonha
os cigarros que se mastigam sem amanhã
os olhos que se fingem
a salvação por que se anseia sem saber
o vazio que devora tudo..

o tempo que tudo corrói

as palavras secam na fonte

no cálice da incerteza
as gotas teimam em escorrer
sem que eu as veja por cansaço
de mais uma vez

o fumo preenche o meu ar
à falta do teu

as veias escondem-se no medo
da sangria do tempo
e no temor
de mais uma vez

a promessa soa falsa
mas procuro a verdade
nela contida
encontro-a na proximidade
do abandono renegado
ao mundo dos mortos que sentem

queria dar-te vida
insuflar-te da minha alma
uma vez que fosse

14 de junho de 2007

limpeza de stock

idólatra herege
palhaço triste
contente com a mesquinhez desoladora

...

não é a chuva que me curva os ombros,
é o teu peso na minha solidão..

...

não penses que me desligo de ti
apenas não sei o que te dizer
quando não te posso dizer
o que sei sentir por ti

...


queria ser o teu mundo mas não estou na vida certa..
por ti sinto-me tentado a acreditar na reencarnação, sabes?
enfim, tolices de um órgão velho, doente, de novo trazido à vida pelo teu rapto..

cálculo mental

luta diária
batalha solitária
inimigos caem aos milhares
mas o fim evade-se

a bandeira ao vento solto
o horror nos olhos espelho
e a tristeza dos fins
o grito mudo na voz sem alma
a pele queimada pelos anos
a carne podre pelos enganos
apatia sempre insistente
sintomas da degradação evidente
deserto cheio de emoções compradas
bizarria calculada
e o habitual nada

tudo isto sem o abandono
do desconforto da paralisia

rage against the machine - freedom

um breve post para celebrar o regresso da banda mais relevante dos anos 90, com a esperança de que tenham voltado para ficar..

faziam já muita falta mesmo..


13 de junho de 2007

h2o tu

curiosidade dessa alma
fascínio do jogo dos próximos
tão opostos como o teu sol da minha lua

a torneira do afecto avariou
e agora encharcado procuro mais
seco o interior sequioso
bebo à exaustão

...

o eclipse de ti mortal
a inundação torna-se

o inevitável mal estar atenua
e canto-te mais uma vez
apesar dessa surdez
que apenas eleva o meu grito

esgotado
procuro ainda a rocha
o dilúvio quase sufocante
não agarro

fim de tarde na tasca

sentado aqui ao canto da tasca
com um copo de tinto escorregando da mão
adormeço ao som das conversas
que se deitam fora entre amigos

lá fora o mundo está cravado
dessa injustiça humana
mas aqui tudo o que existe
são almas próximas no desengano
de mais um copo partilhado

o balcão cospe fogo em copos
e as colunas despejam palavras
de intervenção afectiva

os convivas conhecem-se já
e as zangas morrem rápidas
a política dissolve-se
os futebóis não se zangam
e as gargantas nunca secam

fecho os olhos lentamente
e desligo a cansada mente
o conforto invade-me o corpo
e o copo escorrega no chão

12 de junho de 2007

schizo

patrocínio da loucura
o oito é o número da paz
tranquila e esquiva

metódico esquizóide
paranóia veloz que corre
para a ponte queimada

neurónio apagado na luz
demasiada do momento
infravermelho real
gravação banal

assinalado outro fim
novo recomeço ameaça
a realidade desaba

...

trapézio da sanidade pouca
retrato real da realidade
vivida ofuscada pelas luzes
vinte e quatro horas por dia
porquê a insónia do mundo?
seria melhor se dormisse um pouco
está com cara de sono
e fazia-lhe bem..

11 de junho de 2007

1

um túnel que vislumbro ao acordar
repleto de olhos negros na escuridão acordada
do meu sono

uma luz que não me tranquiliza
nem me capta os sentidos pouco despertos
adormecidos no eterno

um olhar cheio desse vazio meu
mas também nosso pois o botão messiânico
não funciona

um sussurro alucinado na noite
uma audição que se faz surda
pois recusa-se

um grito de desespero que não ouço
e que me assusta na sua ausência em mim
pois lembra-me a tua

um pesadelo que responde às coisas
que não se perguntam pois têm resposta
dentro de mim

um pânico do vazio que se conhece
como escapatória do real doloroso
que se torna mais

um medo que consome a vida no temor
de algo mais que a transferência
de sentimentos alheios

uma vida sem morte possível na falta
de uma vida sem a morte como fim
e como salvação

uma morte desejada como paixão nova
pois luz ao fundo do túnel da miséria
e da escassez de tudo

um sono que regressa no conhecimento
de outros sonos pouco momentâneos
quase umbilicais

t. m. v.

gotas eléctricas contrastam
com o coração ondulante
cascata de praia
na percussão reinante
o coro helénico
modela o diamante
palavras cuspidas
alma exangue

três minutos

noite negra da solidão
que acompanha a paixão insatisfeita

tens já um nome para mim
és o amor
foges-me já
por entre os meus dedos escapas
ampulhetas rotas

ladrilhos amarelos
esmurram-me ao sangue jorrado
de uma vez por todas

a sombra escassa
é tudo o que sou
três minutos e o fim chegou
a vida assim formatada
num conto de fadas

a tinta escorre
mas a alma está seca
o sangue congela e o mundo pára
a noite não acaba
a luz não me adormece
tu não aconteces

8 de junho de 2007

manif (bate palmas)

está na hora da morte dos canibais
e parasitas que se regozijam
com o banquete dos imortais
cuja ditadura tanto os aflige
esse muro há muitas eras erguido
será deitado abaixo com sangue
os abutres vivem do nosso tutano
mas os putos já estão exangues

desliga a merda do rectângulo
mais um esquema mais um ângulo
vamos fazer um novo ideal
a morte da inépcia mental
e do cancro que nos consome
àqueles que vivem da fome
àqueles que a raiva não mente
é preciso sarar essas mentes
de palavras reais carentes
de lìnguas que não mentem
de homens que ainda sentem
humanidade cá por dentro
abre os olhos estás doente
a demência tomou a tua mente
não penses que estás inocente
a inocência foi à frente
das baionetas dos dirigentes
desse mundo que não entendes
nem amas nem gostas nem sentes
como teu porque to roubaram
como a tua vida te tiraram
e o teu futuro já mataram
assassinaram aniquilaram
e o teu passado limparam
para melhor te enganarem
e ainda mais te roubarem
como orwell já te avisara
e kafka já imaginara

falam muito parecem araras
não dizem nada sem almas
são vazios sem o cifrão
com o dinheiro masturbação
com o dinheiro desunião
e pelo dinheiro cairão
ninguém lhes dará a mão
o que semearam colherão

6 de junho de 2007

assim..

olho as cores desconhecidas
olho seres que se movimentam
sem que algo em mim faça sentido
senão este vazio
do teu rasto

ouço sons que se assemelham
a algo familiar
mas tu não estás cá
para me explicar
o que significam

sinto o suor na pele
e o frio que eu deixei em ti

estória repetida
o ego suicida
levantou-se e conquistou
mais um espaço de paz

agora as ovelhas não passeiam mais
nem o peixe sabe onde está
os bichos mil agora são zero
a extinção foi total

uma noite

lua anárquica no meu fluir
pela rua deserta de seres mais humanos
foges-me sempre que te procuro
com os olhos escurecidos pelo cansaço de desviver
e abstractos olhares deito então ao chão familiar
de outras fugas

as estrelas invisíveis
entre os néons que rolam
como balas perdidas
já não me fascinam
como na vida que tive

desrespeito pela métrica dos passos
e pela direcção conhecida
os candeeiros olham-me de lado
cumprimento-os antes de fugir
da sua luz inquisidora

os escuros becos magnéticos
os recipientes do fim anunciado
os brilhantes olhos cúmplices
os outros eus
os motores frios
as estradas desprovidas de sentido
e os latentes apêndices de cimento
todos me conhecem já
na companhia de mais uma noite vagueada

de ti onde?

parede em sangue
buraco infecto da alma evacuada há muito
a ilusão acaba
rápida como o desespero já habitual
não sabias afinal que o caminho estava armadilhado
e que a carne é demasiado fraca para o tamanho da carência

senti
por momentos teus isolei-me de mim
e senti

espiral
do fim iniciático

o espelho
aperitivo de ti
reflexo enganador

a desilusão faz parte de mim
negro pois invisual
eu porque cego de cão
de vida em vida falsas
de ti onde?
de ti quando?

5 de junho de 2007

song to the hope inside

the fastest way out is always mine
the easy way out
alone i pine
for the things i never crave
all those things disappear
right in front of my eyes

the ones i hate are always mine
the easy way out
again i cry
for the ones i never saved
all those thoughts reappear
now that i´m left behind

there´s something else here
amidst the pain and fear
a feeling of uneasiness
like i´m becoming less
an empty glass and a full
headache of nothingness
a full ashtray and some
thoughts i still caress
in this frozen broken path
i chose out of cowardice
like you would ever last
inside this fuckedup id
a neverending nightmare
and a pocket full of me
a mind that won´t care
again i feel the scream
that escapes from within
my own limbo divided
reaching out to anything
now in me you subsided

the fullest pain is always mine
the easy way out
alone i´m found
inside you i couldn´t stay
in darkness you disappear
proud here i stand blind

the truth i know is only mine
not even a way out
a null mind
the things i never hated
slowly steadily disappear
and unearthed you find me

this i don´t want as mine
a way in not out
to reach inside
this disguise i created
and its threshold tear
and the future take as mine

4 de junho de 2007

morbidez lânguida

tábua lisa sem rasgos de imaginação
parede inspiracional despintada desnuda
branco e mais branco entre as letras sumidas
a preto tão pouco

vazio sentido obrigatório
sentido proibido que tentei enfrentar
metaforização da estupidez lânguida
do emprego do desperdício da força inata humana desumana

vivissecção de uma mente inapta
autópsia moral
crença na cinza ao vento
como final digno da morte-vida

flush de significados insignificantes
porque vazios do sentimento mais puro
e da razão mais límpida
e de qualquer coisa que não esta
morbidez escatológica
que não destrói o nada dentro de mim
nem o algo que não sei

nota symbian

sol do desagrado
lua do desencanto
estrada perdida no desprezo
casa ruída no desespero
vida manchada no desafecto
mas para que porra serve este desamor?

não chegam já os labirintos emocionais
tenho também que desenhar
um bulldozer a régua e esquadro
para desabar mais um telhado
inventar mais um desabafo
e da vida tirar feriado?

já chega.
efectuado.

3 de junho de 2007

naufrágio da loucura final

catrefada de estupidezes que me invadem
bisca lambida do destino inerente à vida
que se vive com demasiados porquês

mas olha, já te dizias a ti próprio
ainda no outro dia estavas vivo
e agora de novo te sentes morto
mas afinal como é?

o capitão deste barco já saltou borda fora
porque nos agarramos ainda ao cordame?
não somos todos ratos afinal?

acidentes oníricos lambuzados de esperança
induzem-nos na realidade televisiva
do sentimento mastigado e digerido e cuspido e vomitado e defecado
e mais uma vez mastigado e etc.

o imediato já tomou conta
apenas fosse verdade
na realidade em standby
o gajo foi-se com o capitão
e ambos estão neste momento
a ver-nos na televisão

esquizofrenia radiofónica
pois tenho os olhos fechados
fechei-os quando me pensei
e quando dentro de mim te matei
e apenas mais um morto me revelei

procuro ler então fora do desespero que já toma conta de mim
mas já os coitados dos ratos roeram os livros todos
e agora as páginas restantes zombam da minha facilidade
em me desencontrar

a tripulação enlouqueceu
o jantar está pronto
uma réstia de sanidade
faz-me sentir o calor
o fogo lento arde o céu
e isto que queimo sou eu

nas cinzas do tempo que rui
encontro um velho papel carcomido pelo tempo gasto
procuro as letras anciãs desconhecidas
na esperança vã de um vislumbre de algo tangível
mas não conheço esta nova semi-linguagem

grunho então de raiva
e já não sei quem odiar
carradas de ideiotas
percorrem-me a mente
e esqueço tudo no esquecimento

1 de junho de 2007

his pants are too tight

"His pants are too tight" by The 9 Lives

em deviantART





este sou eu, neste momento sem ti
já me amavas, não?
estúpido como sou, não percebi que nunca foi esse o problema..

sinto esta pintura um auto retrato por osmose, finalizado no desconhecimento do público alvo..

obrigado, the 9 lives

já ontem te dizia em silêncio

território negro de queimadura antiga em que tento equilibrar-me
sinto as forças marés que me deixam abandonado na tua indiferença
junção de vontades tão contrárias
numa corrida contra o passado interminável
numa fuga a um futuro possível?

o gelo característico do amor obssessivo
o absoluto como tangível
o desprezo pelo nosso amor este
o ódio acumulado que acumula
o desespero fácil da insegurança
o medo sempre
o medo e o horror da perca inevitável
inolvidável
o medo insondável do nosso fim
o medo permanente do meu fim em ti

quando acordo és tu que me faltas
quando me desacordo és tu que não beijo e que não acompanho ao desconhecido
no limbo és tu que vou desesperando nesta merda de sentimento egoísta e castrador de nós
é assustador mas belo como me invadiste
como te sei sem te conhecer
és algo nas minhas entranhas e na minha mente
perco-me ao tirar os olhos de ti e reencontro-me na tua voz

início de vida nova em cada dia novo

31 de maio de 2007

névoa

névoa que rodeia a serra fugidia
frémito que augura algo
penso-te há duas horas
acordaste ao meu lado
o hábito de te sonhar está já enraizado

sem a tua presença sinto o teu cheiro
já parte do meu sistema
nervos procuram os teus nervos
mãos procuram-te sem te encontrar
anseiam por outro toque que não o solitário
olhos abrem a tua imagem ao fecharem sobre o mundo
lábios sentem a tua ausência dolorosa
tremem na tua lembrança
corpo necessitado dessa dose

o sol aparece
a névoa dissipa-se
tu não

28 de maio de 2007

formatação

formatação habitual dos costumes metafísicos necessários à alma carente de necessidades afectivas frustradas das constantes tentativas de invasão própria e também alheia à vontade de viver uma vida que nunca se desejou e sempre se desprezou mas que sempre se amou com tudo o que está por dentro do nada que sempre se foi na alma vazia e carente e necessitada desse amor que não me pudeste dar porque me abandonaste antes de me morrer e assim me fugir para sempre..
não sei porque te escrevo tanto quando sempre te esqueci..
será que me visitaste e comigo tentaste falar ao fim de tantos e tão cheios de esquecimento anos longos e solitários?
proso-te agora sem conhecimento de causa numa catarse reveladora da falta que tens dentro de mim encontrado caso me tens visitado, coisa que nunca te permitiria até te redescobrir ainda viva nesta memória autofágica..

invasão frustrada

parede calafetada a negro
que tento invadir a branco
passageiro desse transporte
que nunca regressou
a este nosso presente
inodoro e incolor
repleto de dor
nem que seja a minha própria
egoísta e barroca

estou farto deste eu
que nesse coração tão meu
apenas vê desprezo

é triste este peso
carregar tão sozinho
quando em ti preso
encontrei um caminho

poderei eu encontrar forma
de te manter em mim
sem que o teu desejo
seja para mim uma falta?

25 de maio de 2007

em rio seco lavado..

paz redentora do desespero que se vai escoando
lutando sempre em mais palavras estúpidas
mas nesta fragilidade ganha a tua luz
não sei ainda onde me levo contigo comigo

noite sem fim de palavras e toques e olhares
soltos por vezes no abandono da insensatez
ou reprimidos no conhecimento demasiado
de algo que deveria estar certo
mas neste deserto só nosso
és oásis miragem e sequestro

mas és também rio transbordante
de alma molhada por cima da secura
de outros dias
outras vidas?

23 de maio de 2007

as cidades do fim

esta Babel em nós
desperdiça-nos o futuro
mil palavras vazias para escrever o desespero
nesses corações tão vazios de alguma coisa mais tangível
que o silêncio que ainda nos separa

castrados por um deus impotente
e por homens ejaculando nódoas morais
Auschwitz intelectual
o horror normalizado
o ódio mora aqui ao lado de nós
e dentro de nós se instala
o sentimento conceptual
de odiar porque sim

Sodoma lipoaspirada
do prazer ténue mas real
do gasto fácil de mais um esperma
do calor a enregelar em nós
do futuro cancelado sem devolução
últimos morremos

explodes miséria
corrompes sangue e o amor
és Jerusalém dos mortos-vivos
que se enfrentam no vazio
das almas

essa Lisboa que é tão minha
como distante me está
bandeira do que sou e escrevo
analfabeta e suja parida
lavada por temporal sísmico
de gravata e tão rota..

19 de maio de 2007

mãe

nota curta na memória esquecida
és tu assim na minha história poluída
por anos de auto degradação
chega de mental masturbação
equipamentos em vão produzidos
carregam cadáveres a mil paridos
chorados desprezados esquecidos
carentes acidentados suicidas
já te chorei demasiado sem saber que eras quem me faltava
na minha alma sempre foste quem de fora ficava
lírica diarreia eterna sem te conhecer
afectiva asfixia sem te poder esquecer
na verdade estás sempre no meu ser
sinto ainda que te estou a dever
horas e dias e noites
do nosso passado
ler e reaver e te conhecer e saber
quem era esse teu ser
que me pariu num passado
longínquo esquecido e gasto
é esta agora a hora de renascer a tua memória
e esse poço escuro abjecto tornar história

17 de maio de 2007

em ti

é como choques eléctricos
papel em branco cheio de ti
à margem do que me fugiu

és doença boa repentina
esquina de rua estreita e quente
tenho vício de ti
carocho terminal no teu (desas)sossego

nesse teu livro leio-me quem sou
o medo foge para ontem
e o desconhecido mostra os dentes
menos amarelos

trepidação momentânea
perfume alucinante
alugo nova alma
tentativa de saber o teu tamanho
serve-te talvez?

tenho já menos de mim
e mais também
Ares, isto sou eu..

13 de maio de 2007

as coisas do amor e do ódio

rimas..

mensagens de amor e ódio
neste corpo que tu lavras
entre os ossos e as larvas
quanto mais fundo escavas
o túmulo do meu desprezo
pelo mundo por ti por mim
não morro porque não vivi
uma vida já morta assim
sem um começo nem um fim

a campa do meu medo
está deserta encoberta
pela carência certa
desperta e acorda para isto
a corda ainda resiste
o veneno ainda persiste
morri quando me sorriste
mas ainda não desististe
deste triste palhaço
magoei mas não fugiste
do meu humano lixo
sempre morto sempre fixo
na estúpida ideia fixa
que não sou mais um turista
que anda a ver as vistas
não acredito nas revistas
nem elaboro nas pistas
nem acreditas o que visto
contra tudo ainda resisto
persisto mas já fraquejo
porque a solidão almeja
uma outra alma que seja
na tua companhia despejo
o ódio que me enfraquece
e me escurece e adormece
acabam-se todas as preces
sei que melhor mereces
para tudo que melhor és..

sem título

escorro sangue verbal
numa verborreia mental delirante
o fim das palavras

e tal..

é maltrapilho este amor
que vai surgindo entre aspas
de coisas que ainda me assustam
após lento e pesado convívio
com a solidão mais abjecta

12 de maio de 2007

eu assim em vivo (+ ou -)

pulseira titubeante
em braço magro de fome de mais vida

cigarro voltejando fumo
em dedos secos de veias carentes

unhas roídas pela angústia
trauteiam melodias demasiado conhecidas
por alma afectivamente surda

mãos encharcadas por suor
de fim de tarde habitual

pés de alma branca
dardejam orgasmicamente
sem sentido

ritmo quente em corpo frio
veias salientes de nada
coração cheio de vazio

olhos marejados de absoluto
de oceânicas profundezas
clamam os céus tão distantes

11 de maio de 2007

o ódio do puto

janela baça de cinzento preto
grades invisíveis rodeiam o ódio
prendem-no
agarram-no sem o deixar fugir

das vezes em que algo seria
nunca o é porque o ódio fala sempre mais alto

negrume
cinza em que se afunda
o morto que ainda se julga vivo
o cadáver putrefacto
o renegado
de si excomungado
ostracizado pelo ódio
sempre a merda do ódio

o homem que se julga isso, homem
sem o ser pois o ódio
corta-lhe as veias
sangra-lhe o coração
esvaziado já de tudo

cabelos caídos num cancro letal
pulmões vivos no tumor
coração morto no temor
da vida que se assusta
e assusta o homem
que ainda se julga homem
sem o ser

um puto
sem futuro
nem passado
morre o presente
na vida ausente

rua da morte, nº 0

saio então para a rua
desvio-me dos cadáveres
e procuro a minha luz em ti
esqueço tudo o que sofri
e renasço assim em ti

já me tinhas dito que era tarde demais
o amor que em ti morreu já não volta mais
mas eu sei que o impossível acontece
mesmo sem deus para ouvir essa prece

pausa analítica..
a bílis reaparece como sempre..
dois dias depois..

já não sei o que diga mais
um milhão de atrasados mentais
vivem no interior da minha mente
fecunda schizo paranóica doente
dá-me um dia uma hora uma vida
que esta coisa que sou nunca mudará
sempre em constante desatino
é fatal remetido ao destino
que me escorre para o esgoto
sou um monstro um monstro
cuja vida não vale uma punheta
chaga do mundo que não é meu
parido por uma qualquer puta
que em vida não desiludi
e em cuja morte continuo a cuspir

é como amar
é como matar
é como viver sem antes nascer

saio então para a rua
invisível para melhor fugir de mim
encontro-te então a ti
o desejo morreu em ti
e a vida morreu em mim

10 de maio de 2007

curta

como tu entraste não sei
a gazua que usaste não ta dei
dos subúrbios da minha alma
entraste na minha desconhecida calma

nas ruínas há tanto abandonadas
faço minhas as forças encontradas

oniris

campos de espigas urbanas
rasgo negro de asfalto
atravessado por luzes efémeras
e por nós
apaixonados no nosso encontro sem razões

fantasia onírica de que acordo
o desejo da morte já morreu
és tu que sonho agora nos momentos menos acordados
escrevo-te para que não me leias
sente-me alma quase minha
renasço em ti e em mim

8 de maio de 2007

pensamentos mecânicos

som furioso no vazio solene deste silêncio ensurdecedor
rebentam pelas toscas costuras a tua presença em mim e a tua ausência em mim
complementos irreais de não sei o quê

tapete voador sobre haréns despidos de gente
imaginário circular nostálgico e sem imaginação
povoado por nadas

tábua sem escrita legível
instrumento sem música
poema sem vida contida

pensamentos mecânicos

4 de maio de 2007

amantes novos

amantes novos
beijos repentinos nervosos
carícias cheias de tudo
fantasias retalhadas de realidades longínquas

olhos pingam de alma para alma
sem deixar cair o momento
vozes calam-se entrecortadas
arfando na violência dos sentidos soltos
e dos interiores em sangue e carne e alma viva

salivas viajam e exploram-se
mãos redundam em fogo ardente
e visceral
o cheiro adensa espesso

tremor
luz branca infinita
olhos invisíveis
alma nua

3 de maio de 2007

espaço impuro

caixote de memórias más
que não partilhas comigo

espaço impuro dessa alma tão tua
que sangra em mim

hemorrágico sentimento de ti
que te despedaça porque não sabes
como estancá-lo
que me despedaça porque não sei ensinar-te
a receber o que tu me dás

circo

palhaço triste que já não chora
as suas lágrimas secaram
na fonte do pecado de amar demais

com a alma toda se perdeu
vazia de tudo que não é seu nem teu
não sabe como viver sem o circo
das mil cores e afectos e desejos de festa
sabe apenas como perdeu
quem tu eras

já não chora porque não sabe como
mas o seu sangue quer mais
e o seu corpo ressaca de ti

violenta insensatez
de perder aquilo que é tudo
para agarrar mais um nada

sonha ainda com o circo
mas a cidade dorme vazia e triste

sol

sol de alguém?
ah!
a minha lua toda
e a tua porque sim, porque o teu passado assim o quis
e o sol continua no ar, só e sem olhar para trás
descomandado
sem sabedoria nem felicidade, existe
sem passado nostálgico nem futuro insistente
presente constante algures
sol de alguém?
ah!
tenho medo que sim
mas por momentos iluminei-te a noite solitária

zero quilómetros

vida que me foges em constante perseguição de arranques
parede babilónica de quarto fechado por regressos infinitos
és assim, pedra em riacho transversal ao conhecimento que se me recusa
infindável mesquinhez esta
que me fecha dentro do que tenho de pior
foste tu no entanto quem me libertou dessa tua prisão tão doce e cruel

fim do tempo dos regressos?
será este por fim o tempo do futuro?

1 de maio de 2007

"manifesto anti-odete"

ao circular por um dos blogs de um tipo que até conheço, deparei-me com um tal de Manifesto Anti-Odete..
ao ler a deprimente verborreia, não pude deixar de exprimir a minha opinião em relação à mesma..
Como duvido seriamente que a mesma seja aceite pelo moderador, aqui deixo o link e respectiva resposta..

http://shortdickman.blogspot.com


"lixo tóxico acabei de ler
não há como enganar
fascistóide libertário
pilhando as liberdades alheias

vómito odioso acabei de ler
e não é que ainda os há?
palhaços que fazem da odete
escapatória do nonsense
nesta nauseante sociedade
que do comunismo fez novo demo

palavras asquerosas acabei de ler
e depressa as vou esquecer
e no dia em que a odete se for
mais pobre vamos ficar
até aqueles que com ódio inexplicado
nela passam o tempo a pensar

foi esta a liberdade em que defecámos.."

enfim..

29 de abril de 2007

sentidos apreendidos

preciso respirar-te
as horas que não são vivas sem o teu cheiro, preenchem-me da falta de ti

preciso ouvir essa voz quente e próxima
som cheio de vida e memórias e agridoce assim como és, tu

tenho que te olhar
nos outros dias em que apenas existes dentro de mim, e não nestes olhos gastos, és sempre um pouco menos

preciso tocar-te
brancura tua e minha, corpo repleto de ti, triângulo de perdição e imaginação vagueante e delirante e ofegante e orgásmica

preciso estar em ti
alma tão próxima que igual mas mais livre como não sou dos desafectos da vida

27 de abril de 2007

pequeno menino

pequeno menino assustado
assustas-me assim tão
frágil dentro de mim
choras na noite escura
não há nada mais desesperante que chorar sozinho
cresce-me um tumor a pensar nestas coisas

o inoperante desejo de uma carícia
o medo de falhar o amor
o pânico dos suores frios
do engolir em seco para que as lágrimas não vertam mais

sozinho na noite e assustado pequeno menino
que vive dentro de mim
uma vida de pequenos e grandes nadas
vago ser que ninguém quer ocupar
como poderia ser de outra forma se o homem que nunca cheguei a ser há muito partiu?
como encontrá-lo de novo em mais uma noite de perdição e desencontros?

poeta nunca serei pois falta-me aquele saber das palavras de quem acredita nelas
todas me dizem medo
como viver uma palavra só?
mesmo que fosse o amor?


arquivo 2006

comédia humana

nada me preparou para o choque de viver
assim é fácil morrer
assombrado pela comédia humana
divertido pelos seus infinitos cambiantes

nada me preparou para a morte dos ideais
ideologias e autofagias
aconselham-se todos os dias
violam-nos a sorte
o azar de estar vivo
mil vezes a morte
mil vezes o eterno estalar do chicote
sobre as costas da primeira estrela
a vida em troca de nobres ideais
que destilam atrasados mentais

nu em cima do palco
um palhaço triste de shakespeare
tenta sorrir mas em vez chora
não sabe porque a morte demora
e nada mais me apavora
porque sei que nada é fado
enquanto tudo se desmorona
à minha volta
lenta e graciosamente
focado pela bela lente
que nos tolda a memória


arquivo 2004

24 de abril de 2007

insónia

queimaduras..



insónia
begónia
parvónia
cachimónia
amónia
insónia
amónia
amoníaco
buganvília
testosterónia
parcimónia rima com insónia
patónia
demónia
catatónia
cateter anal
analónia
personalidade
insomnia
insectónia
tchetchónia
ah humor a uma hora destas
hora do ataque da insónia
sem parcimónia
babilónia
insónia na babilónia?
sim...
antónia sofre de insónia na babilónia
neurónia queimada pela insónia
é tudo um círculo, no fundo
salva-me placa tectónia
salva-nos
da insónia
anónia
amazónia
filarmónia
harmónia
lacrimónia
sanatónia?

23 de abril de 2007

em mais uma noite atroz..

um turbilhão de ódio percorre-me de alto a baixo
não sei mais o que fazer para estagnar a bílis
tudo à minha volta se torna vermelho sangue
uma velha puta dorida abraça-se a mim
a dor amaina
acalma
não queres tu também juntar-te a nós?
ouvi dizer que também te sentes só
percorremos escuras ruas
nesta noite de cheia lua
gastando o tempo
o inútil tempo
que se adensa sobre nós
qual casca de noz
em mais uma noite atroz..


arquivo 2006

in this hole

in this hole i recoil myself
in this hole i miss you
deep down inside i can hear your screams.. feel your scent
hear your voice calling

in this hole of memories
in this hole of shadows
deep down inside i can remember everything.. a forgotten dream
a shrinking feeling

deep down inside this hole

in this hole i call my own
in this hole i roam alone
deep down inside your image shatters all around me.. feel you ever so thin
lingering within

in this hole i built myself
in this hole known by no man
deep down inside there´s nothing left to weep for.. nothing worth saving
nothing worth living for

deep down inside this hole

still lying to myself inside this hole

a raiva

a raiva que ruge corrói-me, corrompe-me por dentro..
eu não consigo gritar, porque quem me ouve não está cá
há muito partiu..
como que uma lembrança doentia
podre o interior
o dilúvio de uma dor sem fim
será que amanhã chove?
sim..
chove todos os dias
todos os dias são iguais
todos estes dias banais
todos os dias mortais lufadas de ar fresco me trazem de volta ao mundo renegado, como que um morto arrancado à morte, eu acordo e digo:
merda, que se foda a vida dos mortos..


arquivo 2006

untitled

a shithole to hold us together
burned every inch
spiraling toward the void..

soulless and uninspired
i walk away from the mire
and disappear in the fire
of my desire..

durmo que durmo

durmo que durmo.. e ando para aqui a dormir.. a fingir que conheço aquilo que ainda consigo sentir.. e durmo e durmo.. sempre mais um pouco.. na apatia reinante do meu sono acordado.. quando acordo é para me ferir de morte.. este orgulho enfermo há já tantas vidas sonolentas.. quantas vidas já dormi? sempre com a paranóia de me fingir acordado..

o hábito

sinto então ressurgir aquele sentimento de pós-nada habitual nas minhas emoções. como se estivera num quarto vazio onde deverias estar tu. isto não pode ser amor. nada no que sinto me agrada para lá do sentimento de pertença que não partilhas. mais uma vez. és a minha musa inexistente. criei-te para te substituir neste habitual jogo de espelhos esquizofrénico com que entretenho a minha vida morta. não é tua a culpa nem do mundo que culpo. é apenas minha, de não saber viver sem amar, não sabendo amar. mas eu sei amar, não sei gostar, apenas. prevejo então mais uma insónia de noite branca. é a dormir apenas que te consigo esquecer, julgo eu, pois os meus sonhos há muito partiram para o limbo do meu esquecimento. palavras sujas e nuas que ainda assim não chegam para explicar o começo da minha dor. este odioso espírito que me habita conseguiu, sem esforço, encontrar na mulher perfeita que és para mim, mais um gatilho de autodestruição estúpida suicida demasiadamente repetida. apetece-me gritar de dentro para fora numa fúria inspiradamente libertadora e descastradora de toda a paixão que tenho para te dar.

22 de abril de 2007

ossos

dias menos bons..


abutres todos
a carcaça desfigurada
o seu bicar aguarda
nu.
só.
tudo me lembra
o que preferia esquecer
a noite nua faz-me companhia
preferia outra
mas não se me oferece.
já só a carne segura estes ossos.
restos pútridos de carne
que seguram ressequidos ossos.
ossos que vêm de sempre
para o sempre
nada abalando
nada alterando
por tudo passando
sem rasto, sem dor, sem prazer, emoção ou amor
nada sou eu
nada me faz
o nada me desfaz.

adágios despopulares

mentiroso contente chega a presidente.

quem muitas punhetas bate, perde sempre o debate.

a política é para os amigos.

em casa de ministro, não há espeto.

a puta da minha vizinha é mais cara que a minha.

quem anda à chuva é porque quer.


arquivo 2005

outro

sinto que estás algures dentro de mim
não te procuro porque continuo com medo
escuro, denso, animal
sinto-te no entanto por vezes querendo sair
do teu invólucro pestilento malcheiroso antigo ridículo
o que fizeste?
quem te guardou aí?
sei que fui eu quem te guardou
mas não sei quem mo ordenou.
sinto-te palpitar e por vezes desafiar o OUTRO
mas tens que falar mais baixo
para que ELE não te ouça.
não queres concerteza?
tenho medo....


arquivo 2006

Q & no A

bem antigo..
como alguém me disse no outro dia, era a idade dos porquês
sentimentos que já lá vâo, embora fiquem..


disseste?
que me querias?
me amavas?
para sempre?
até para além da morte?
de quem?
porquê?
sou uma merda
como tu mas pior
amaste-me quando?
quanto?
de que te serviu?
e a mim?
ou a alguém?
eu nunca te amei porque não sei amar
o meu egoísmo vai tão longe como isso
mas pertenci-te
fui teu enquanto quiseste
descartaste-me quando?
ainda não sei
mas pertenço-te ainda
até o sempre acabar
quando?


arquivo 2001

sem título

atravessa a ponte,
vem ter comigo.
não, espera!
fica onde estás.
vou renascer
vou viver
vou sair do casulo
espera por mim
o nosso amor é demasiado importante
vou já ter contigo assim que encontrar as chaves do carro..


arquivo 2003

ouve lá!

ouve lá!
nunca ouviste dizer
que é falta de educação
apontar o dedo
desvia-me essa mão
a próxima é p´ra doer
e espero que te doa a ti
porque ando aqui a roer
o teres-me escolhido a mim
sou apenas humano
não fui eu quem escolhi
viver nesta merda
que também te pariu a ti
por isso sai-me da frente
antes que te espanque
já sinto a raiva
a latejar na minha fronte
leva-te daqui p´ra fora
sai daqui agora
estou farto de que existas
antes ter mil quistos
que a tua fronha
no meio das minhas vistas
é bom que não insistas
pois o ódio está a ferver
desaparece já daqui
ou esqueço o meu viver
levo-te até à morte
mas antes faço-te sofrer
mil dores que imaginas
mais mil são a tua sorte
e nem penses em te matar
pois além da morte
estou eu p´ra te mostrar
os fogos do inferno
onde te vou assar
e mais mil vezes te matar


arquivo 2003

políticos

POLÍTICOS - subs. mentiras enlatadas, verdades engorduradas. clisteres, medidas anais e outras coisas banais.

vast - flames

Para todos aqueles que ainda conseguem amar com a alma toda, neste mundo de simples afectos..
Dum projecto que não pode nem deve continuar despercebido..

Vast - Flames

"Close your eyes
Let me touch you now
Let me give you something that is real
Close the door
Leave your fears behind
Let me give you what you're giving me

You are the only thing
That makes me want to live at all
When I'm with you
There's no reason to pretend that
When I am with you I feel the flames again
Just put me inside you
I would never ever leave
Just put me inside you
I would never ever leave you"

mantra shopping

circa 2001 - quanto mais não seja, é bom ver que sempre havia algum sentido de humor..


consome consome
mata a tua fome
de falsos ideais
e mentiras anais
consome consome
mata a tua fome
atrasados mentais
e verdades banais

compra uma sanyo
esvazia o teu crãnio
compra uma sony
esvazia-o e come-o

compra compra
não seques a fonte
que te ilumina
e te extermina
compra compra
não seques a fonte
amanhã há mais
até vem nos jornais

como é bom não perceber
o que se está a perder
como é bom estar-se a foder
para o que está a acontecer


arquivo 2001

vaguear

vaguear
arrotar e vomitar
já em nada acreditar
é esta a minha sina
o meu fado e o meu fardo
tudo o que fui continuo a ser
nada, nada
não me digas nada
a minha fé está minada
tudo o que ouço são balelas
açaimes e trelas
que já não calam
a raiva
que tudo consome
tudo devora
a morte ainda demora?


arquivo 2005

the dream land

manufacturers in diapers
producers in four by fours
distributors shelled in ties
owners in hiding, disguised
buyers in line, credit in hand
no man´s land, the dream land
the american land, the global camp
auschwitz wasn´t this big and clean
no shaved heads, only minds
blown off by cathodic rays
invention of the century
no more shall we part
we are as one
feeding off each other


arquivo 2001

d.i.e. - delirious in e-minor

delírios de há uns dez anos atrás :) ou é bom ou mau demais, enfim..


die.
just die.
you´re of no use, don´t have no fucking utility, why don´t you just die before you harm someone.
die before you harm her, kill her psychologically.
die, for yours and everybody´s sins.
like jesus.
just fucking die.
in every human fucking way, just die.
die for jesus, for god, for love, war, tv, music and poetry.
die fast.
the faster the better.
fast as light, die a beautiful death.
don´t die a little everyday like everybody, just die.
now.


arquivo 1998

o abismo / a mancha

o abismo procura-me
não sei como enganá-lo
loucuras suicidas
soluções tardias?
nestas horas vadias
procuro o refúgio
que não surge..
e o tempo que urge
e a raiva que ruge
não esquecem a dor
que amaina lentamente
ao ritmo dormente
do fim latente..

e apercebo-me
que a mancha na parede
não alastra mas consome-me
de forma tal que se torna irreal
o arfar sufocante
o egoísmo pedante
de viver sem viver..
tento então abafar
o que resta do meu pesar
mas algo não está certo
pois para lá do deserto
nada mais há..


arquivo 2002

another little rhyme

just another stupid little rhyme
to try and make you understand
how you have taken my life
being without you i can´t stand

alone in this desert secret room
like a ghost with no one to haunt
your face comes to me in a gloom
to be like this i was never taught

and everything in me now is dead
but the memory of your smell
hangs to me like it was bled
from end to end of my hell


arquivo 1999

no saviour

the end has come
and still you wait for the saviour
there is no saviour
all the behaviour leads to a price
the one to pay can be honey like sweet
but not this time
this time the pain will creep
and it´ll furiously sweep
everybody and everything.

with mixed thoughts you observe
it all crumbling in your head
no wings to fly away
no fucking hide to stay in
nobody to pray.

meteors come crashing in
the sky falls piece by piece
burning every inch
sinking deep within
taking you along
proving you wrong.


arquivo 1999

the crop is ripe

number and numbered
numbered into numbing
feel no life, no spark
to move me from the dark
no one for me to help
no one to save from hell
nothing expands my horizons
nothing makes me rise
above all this lies
we sank our minds
no tears left to drop
for the ones outside the crop


the crop is ripe now
the milk has soured
on your feet
no sleeping now
kill them now
all them fucking cannibals


arquivo 1999

ashfixia

quero apenas partilhar com quem ler estas linhas o blog de uma grande amiga de tardes e noites perdidas pelo tempo fora. aconselho ferozmente pois escrita com a alma em sangue como a dela não se vê com a frequência desejada..

http://www.ashfixia.blogspot.com

leiam e apreciem :)

sem titulo

e foi assim que matei a esperança em mim
com mais uma noite em branco sem ti
o passado é de quem o quer recordar..

foram já demasiadas as noites assim
num futuro inexistente sem fim
que torna em ao passado voltar
para mais uma vez o amor matar..

não vês ó estúpido ser
que a vida não pode ser este eterno sofrer
sem sentido a colecção aumentar
dos que não te querem ou não podem amar?

essência

a tua essência assalta-me os sentidos, numa renúncia feroz ao esquecimento do elo que nos prendeu assim tão inevitavelmente..
já não sei mais quem sou sem a tua presença, pois a cada momento que passa cresces ainda e ainda mais em mim..

antes morrer em ti que a vida num lugar onde não existes..

noite familiar

noite familiar
nesga de escuridão que me afaga
à medida que estas luzes se apagam
noite familiar em almada
igual a outras, iguais a tantas outras
voltam sempre para me afogar
neste final de tarde escarlate
carmim como o interior
que se afunda em mais dor (sempre mais dor)
em constante xeque-mate
ao pensamento lógico
incessante relógio
que teima em correr
numa fuga para trás
que nada de novo traz
até morrer o sentir
e matar o pensar
apenas divagar
afogar-me nesse mar
de lassidão
e escuridão
sem regresso


arquivo 2004

velocidade terminal

o tédio ultrapassa a vontade de viver,
a inultrapassável negação do ser,
a insustentável letargia de não viver,
atrai-me a volúpia do morrer
lenta e graciosamente,
numa renúncia clemente
à violência demente
que domina tanta gente.

a velocidade terminal
termina esta vida banal.
morro-me nos braços
pois esqueci já teus traços.

o ódio destila-se, incessante
o homem ignora, pedante
ignora-se a si próprio
fá-lo sentir mais forte.
foste tu que pediste
a morte dos pedintes?
foste tu que sonhaste
a antítese de marx?

velocidade terminal,
agarra-te à vida banal.
morres sem porquês,
tu é que não vês.


arquivo 2004