29 de abril de 2007

sentidos apreendidos

preciso respirar-te
as horas que não são vivas sem o teu cheiro, preenchem-me da falta de ti

preciso ouvir essa voz quente e próxima
som cheio de vida e memórias e agridoce assim como és, tu

tenho que te olhar
nos outros dias em que apenas existes dentro de mim, e não nestes olhos gastos, és sempre um pouco menos

preciso tocar-te
brancura tua e minha, corpo repleto de ti, triângulo de perdição e imaginação vagueante e delirante e ofegante e orgásmica

preciso estar em ti
alma tão próxima que igual mas mais livre como não sou dos desafectos da vida

27 de abril de 2007

pequeno menino

pequeno menino assustado
assustas-me assim tão
frágil dentro de mim
choras na noite escura
não há nada mais desesperante que chorar sozinho
cresce-me um tumor a pensar nestas coisas

o inoperante desejo de uma carícia
o medo de falhar o amor
o pânico dos suores frios
do engolir em seco para que as lágrimas não vertam mais

sozinho na noite e assustado pequeno menino
que vive dentro de mim
uma vida de pequenos e grandes nadas
vago ser que ninguém quer ocupar
como poderia ser de outra forma se o homem que nunca cheguei a ser há muito partiu?
como encontrá-lo de novo em mais uma noite de perdição e desencontros?

poeta nunca serei pois falta-me aquele saber das palavras de quem acredita nelas
todas me dizem medo
como viver uma palavra só?
mesmo que fosse o amor?


arquivo 2006

comédia humana

nada me preparou para o choque de viver
assim é fácil morrer
assombrado pela comédia humana
divertido pelos seus infinitos cambiantes

nada me preparou para a morte dos ideais
ideologias e autofagias
aconselham-se todos os dias
violam-nos a sorte
o azar de estar vivo
mil vezes a morte
mil vezes o eterno estalar do chicote
sobre as costas da primeira estrela
a vida em troca de nobres ideais
que destilam atrasados mentais

nu em cima do palco
um palhaço triste de shakespeare
tenta sorrir mas em vez chora
não sabe porque a morte demora
e nada mais me apavora
porque sei que nada é fado
enquanto tudo se desmorona
à minha volta
lenta e graciosamente
focado pela bela lente
que nos tolda a memória


arquivo 2004

24 de abril de 2007

insónia

queimaduras..



insónia
begónia
parvónia
cachimónia
amónia
insónia
amónia
amoníaco
buganvília
testosterónia
parcimónia rima com insónia
patónia
demónia
catatónia
cateter anal
analónia
personalidade
insomnia
insectónia
tchetchónia
ah humor a uma hora destas
hora do ataque da insónia
sem parcimónia
babilónia
insónia na babilónia?
sim...
antónia sofre de insónia na babilónia
neurónia queimada pela insónia
é tudo um círculo, no fundo
salva-me placa tectónia
salva-nos
da insónia
anónia
amazónia
filarmónia
harmónia
lacrimónia
sanatónia?

23 de abril de 2007

em mais uma noite atroz..

um turbilhão de ódio percorre-me de alto a baixo
não sei mais o que fazer para estagnar a bílis
tudo à minha volta se torna vermelho sangue
uma velha puta dorida abraça-se a mim
a dor amaina
acalma
não queres tu também juntar-te a nós?
ouvi dizer que também te sentes só
percorremos escuras ruas
nesta noite de cheia lua
gastando o tempo
o inútil tempo
que se adensa sobre nós
qual casca de noz
em mais uma noite atroz..


arquivo 2006

in this hole

in this hole i recoil myself
in this hole i miss you
deep down inside i can hear your screams.. feel your scent
hear your voice calling

in this hole of memories
in this hole of shadows
deep down inside i can remember everything.. a forgotten dream
a shrinking feeling

deep down inside this hole

in this hole i call my own
in this hole i roam alone
deep down inside your image shatters all around me.. feel you ever so thin
lingering within

in this hole i built myself
in this hole known by no man
deep down inside there´s nothing left to weep for.. nothing worth saving
nothing worth living for

deep down inside this hole

still lying to myself inside this hole

a raiva

a raiva que ruge corrói-me, corrompe-me por dentro..
eu não consigo gritar, porque quem me ouve não está cá
há muito partiu..
como que uma lembrança doentia
podre o interior
o dilúvio de uma dor sem fim
será que amanhã chove?
sim..
chove todos os dias
todos os dias são iguais
todos estes dias banais
todos os dias mortais lufadas de ar fresco me trazem de volta ao mundo renegado, como que um morto arrancado à morte, eu acordo e digo:
merda, que se foda a vida dos mortos..


arquivo 2006

untitled

a shithole to hold us together
burned every inch
spiraling toward the void..

soulless and uninspired
i walk away from the mire
and disappear in the fire
of my desire..

durmo que durmo

durmo que durmo.. e ando para aqui a dormir.. a fingir que conheço aquilo que ainda consigo sentir.. e durmo e durmo.. sempre mais um pouco.. na apatia reinante do meu sono acordado.. quando acordo é para me ferir de morte.. este orgulho enfermo há já tantas vidas sonolentas.. quantas vidas já dormi? sempre com a paranóia de me fingir acordado..

o hábito

sinto então ressurgir aquele sentimento de pós-nada habitual nas minhas emoções. como se estivera num quarto vazio onde deverias estar tu. isto não pode ser amor. nada no que sinto me agrada para lá do sentimento de pertença que não partilhas. mais uma vez. és a minha musa inexistente. criei-te para te substituir neste habitual jogo de espelhos esquizofrénico com que entretenho a minha vida morta. não é tua a culpa nem do mundo que culpo. é apenas minha, de não saber viver sem amar, não sabendo amar. mas eu sei amar, não sei gostar, apenas. prevejo então mais uma insónia de noite branca. é a dormir apenas que te consigo esquecer, julgo eu, pois os meus sonhos há muito partiram para o limbo do meu esquecimento. palavras sujas e nuas que ainda assim não chegam para explicar o começo da minha dor. este odioso espírito que me habita conseguiu, sem esforço, encontrar na mulher perfeita que és para mim, mais um gatilho de autodestruição estúpida suicida demasiadamente repetida. apetece-me gritar de dentro para fora numa fúria inspiradamente libertadora e descastradora de toda a paixão que tenho para te dar.

22 de abril de 2007

ossos

dias menos bons..


abutres todos
a carcaça desfigurada
o seu bicar aguarda
nu.
só.
tudo me lembra
o que preferia esquecer
a noite nua faz-me companhia
preferia outra
mas não se me oferece.
já só a carne segura estes ossos.
restos pútridos de carne
que seguram ressequidos ossos.
ossos que vêm de sempre
para o sempre
nada abalando
nada alterando
por tudo passando
sem rasto, sem dor, sem prazer, emoção ou amor
nada sou eu
nada me faz
o nada me desfaz.

adágios despopulares

mentiroso contente chega a presidente.

quem muitas punhetas bate, perde sempre o debate.

a política é para os amigos.

em casa de ministro, não há espeto.

a puta da minha vizinha é mais cara que a minha.

quem anda à chuva é porque quer.


arquivo 2005

outro

sinto que estás algures dentro de mim
não te procuro porque continuo com medo
escuro, denso, animal
sinto-te no entanto por vezes querendo sair
do teu invólucro pestilento malcheiroso antigo ridículo
o que fizeste?
quem te guardou aí?
sei que fui eu quem te guardou
mas não sei quem mo ordenou.
sinto-te palpitar e por vezes desafiar o OUTRO
mas tens que falar mais baixo
para que ELE não te ouça.
não queres concerteza?
tenho medo....


arquivo 2006

Q & no A

bem antigo..
como alguém me disse no outro dia, era a idade dos porquês
sentimentos que já lá vâo, embora fiquem..


disseste?
que me querias?
me amavas?
para sempre?
até para além da morte?
de quem?
porquê?
sou uma merda
como tu mas pior
amaste-me quando?
quanto?
de que te serviu?
e a mim?
ou a alguém?
eu nunca te amei porque não sei amar
o meu egoísmo vai tão longe como isso
mas pertenci-te
fui teu enquanto quiseste
descartaste-me quando?
ainda não sei
mas pertenço-te ainda
até o sempre acabar
quando?


arquivo 2001

sem título

atravessa a ponte,
vem ter comigo.
não, espera!
fica onde estás.
vou renascer
vou viver
vou sair do casulo
espera por mim
o nosso amor é demasiado importante
vou já ter contigo assim que encontrar as chaves do carro..


arquivo 2003

ouve lá!

ouve lá!
nunca ouviste dizer
que é falta de educação
apontar o dedo
desvia-me essa mão
a próxima é p´ra doer
e espero que te doa a ti
porque ando aqui a roer
o teres-me escolhido a mim
sou apenas humano
não fui eu quem escolhi
viver nesta merda
que também te pariu a ti
por isso sai-me da frente
antes que te espanque
já sinto a raiva
a latejar na minha fronte
leva-te daqui p´ra fora
sai daqui agora
estou farto de que existas
antes ter mil quistos
que a tua fronha
no meio das minhas vistas
é bom que não insistas
pois o ódio está a ferver
desaparece já daqui
ou esqueço o meu viver
levo-te até à morte
mas antes faço-te sofrer
mil dores que imaginas
mais mil são a tua sorte
e nem penses em te matar
pois além da morte
estou eu p´ra te mostrar
os fogos do inferno
onde te vou assar
e mais mil vezes te matar


arquivo 2003

políticos

POLÍTICOS - subs. mentiras enlatadas, verdades engorduradas. clisteres, medidas anais e outras coisas banais.

vast - flames

Para todos aqueles que ainda conseguem amar com a alma toda, neste mundo de simples afectos..
Dum projecto que não pode nem deve continuar despercebido..

Vast - Flames

"Close your eyes
Let me touch you now
Let me give you something that is real
Close the door
Leave your fears behind
Let me give you what you're giving me

You are the only thing
That makes me want to live at all
When I'm with you
There's no reason to pretend that
When I am with you I feel the flames again
Just put me inside you
I would never ever leave
Just put me inside you
I would never ever leave you"

mantra shopping

circa 2001 - quanto mais não seja, é bom ver que sempre havia algum sentido de humor..


consome consome
mata a tua fome
de falsos ideais
e mentiras anais
consome consome
mata a tua fome
atrasados mentais
e verdades banais

compra uma sanyo
esvazia o teu crãnio
compra uma sony
esvazia-o e come-o

compra compra
não seques a fonte
que te ilumina
e te extermina
compra compra
não seques a fonte
amanhã há mais
até vem nos jornais

como é bom não perceber
o que se está a perder
como é bom estar-se a foder
para o que está a acontecer


arquivo 2001

vaguear

vaguear
arrotar e vomitar
já em nada acreditar
é esta a minha sina
o meu fado e o meu fardo
tudo o que fui continuo a ser
nada, nada
não me digas nada
a minha fé está minada
tudo o que ouço são balelas
açaimes e trelas
que já não calam
a raiva
que tudo consome
tudo devora
a morte ainda demora?


arquivo 2005

the dream land

manufacturers in diapers
producers in four by fours
distributors shelled in ties
owners in hiding, disguised
buyers in line, credit in hand
no man´s land, the dream land
the american land, the global camp
auschwitz wasn´t this big and clean
no shaved heads, only minds
blown off by cathodic rays
invention of the century
no more shall we part
we are as one
feeding off each other


arquivo 2001

d.i.e. - delirious in e-minor

delírios de há uns dez anos atrás :) ou é bom ou mau demais, enfim..


die.
just die.
you´re of no use, don´t have no fucking utility, why don´t you just die before you harm someone.
die before you harm her, kill her psychologically.
die, for yours and everybody´s sins.
like jesus.
just fucking die.
in every human fucking way, just die.
die for jesus, for god, for love, war, tv, music and poetry.
die fast.
the faster the better.
fast as light, die a beautiful death.
don´t die a little everyday like everybody, just die.
now.


arquivo 1998

o abismo / a mancha

o abismo procura-me
não sei como enganá-lo
loucuras suicidas
soluções tardias?
nestas horas vadias
procuro o refúgio
que não surge..
e o tempo que urge
e a raiva que ruge
não esquecem a dor
que amaina lentamente
ao ritmo dormente
do fim latente..

e apercebo-me
que a mancha na parede
não alastra mas consome-me
de forma tal que se torna irreal
o arfar sufocante
o egoísmo pedante
de viver sem viver..
tento então abafar
o que resta do meu pesar
mas algo não está certo
pois para lá do deserto
nada mais há..


arquivo 2002

another little rhyme

just another stupid little rhyme
to try and make you understand
how you have taken my life
being without you i can´t stand

alone in this desert secret room
like a ghost with no one to haunt
your face comes to me in a gloom
to be like this i was never taught

and everything in me now is dead
but the memory of your smell
hangs to me like it was bled
from end to end of my hell


arquivo 1999

no saviour

the end has come
and still you wait for the saviour
there is no saviour
all the behaviour leads to a price
the one to pay can be honey like sweet
but not this time
this time the pain will creep
and it´ll furiously sweep
everybody and everything.

with mixed thoughts you observe
it all crumbling in your head
no wings to fly away
no fucking hide to stay in
nobody to pray.

meteors come crashing in
the sky falls piece by piece
burning every inch
sinking deep within
taking you along
proving you wrong.


arquivo 1999

the crop is ripe

number and numbered
numbered into numbing
feel no life, no spark
to move me from the dark
no one for me to help
no one to save from hell
nothing expands my horizons
nothing makes me rise
above all this lies
we sank our minds
no tears left to drop
for the ones outside the crop


the crop is ripe now
the milk has soured
on your feet
no sleeping now
kill them now
all them fucking cannibals


arquivo 1999

ashfixia

quero apenas partilhar com quem ler estas linhas o blog de uma grande amiga de tardes e noites perdidas pelo tempo fora. aconselho ferozmente pois escrita com a alma em sangue como a dela não se vê com a frequência desejada..

http://www.ashfixia.blogspot.com

leiam e apreciem :)

sem titulo

e foi assim que matei a esperança em mim
com mais uma noite em branco sem ti
o passado é de quem o quer recordar..

foram já demasiadas as noites assim
num futuro inexistente sem fim
que torna em ao passado voltar
para mais uma vez o amor matar..

não vês ó estúpido ser
que a vida não pode ser este eterno sofrer
sem sentido a colecção aumentar
dos que não te querem ou não podem amar?

essência

a tua essência assalta-me os sentidos, numa renúncia feroz ao esquecimento do elo que nos prendeu assim tão inevitavelmente..
já não sei mais quem sou sem a tua presença, pois a cada momento que passa cresces ainda e ainda mais em mim..

antes morrer em ti que a vida num lugar onde não existes..

noite familiar

noite familiar
nesga de escuridão que me afaga
à medida que estas luzes se apagam
noite familiar em almada
igual a outras, iguais a tantas outras
voltam sempre para me afogar
neste final de tarde escarlate
carmim como o interior
que se afunda em mais dor (sempre mais dor)
em constante xeque-mate
ao pensamento lógico
incessante relógio
que teima em correr
numa fuga para trás
que nada de novo traz
até morrer o sentir
e matar o pensar
apenas divagar
afogar-me nesse mar
de lassidão
e escuridão
sem regresso


arquivo 2004

velocidade terminal

o tédio ultrapassa a vontade de viver,
a inultrapassável negação do ser,
a insustentável letargia de não viver,
atrai-me a volúpia do morrer
lenta e graciosamente,
numa renúncia clemente
à violência demente
que domina tanta gente.

a velocidade terminal
termina esta vida banal.
morro-me nos braços
pois esqueci já teus traços.

o ódio destila-se, incessante
o homem ignora, pedante
ignora-se a si próprio
fá-lo sentir mais forte.
foste tu que pediste
a morte dos pedintes?
foste tu que sonhaste
a antítese de marx?

velocidade terminal,
agarra-te à vida banal.
morres sem porquês,
tu é que não vês.


arquivo 2004

utopia insistente

idiotas como eu
vejo por aí aos montes,
nascem cogumelos,
secam fontes
do pensar e do sentir,
mais uma puta a parir
mais um j ranhoso,
para andar aí vaidoso
a passear a nulidade
e a lembrar a saudade
dum tempo melhor
que nunca existiu,
a nostalgia falsa
duma verdade descalça
que nos fez assim,
dementes nos pariu.
futuro inexistente
utopia insistente
mundo doente.


arquivo 2004

disseste-me..

Disseste-me que eras livre
eu disse que não eras
pois tudo neste mundo
se resume à crueldade
de matar a liberdade

disseste-me que pensavas
disse que pensavas que pensavas
pois neste esterco
mediático que nos rodeia
nao há fogo que se ateie

disseste-me que sentias
eu disse estás enganada
aquilo que chamas sentir
há muito foi abafado
pelo ódio desmesurado

disseste que me amavas
calei-me e chorei
pois não te pude contar
que a minha morte
estava para chegar.


arquivo 2002

demência nocturna

formatação infinita.
castração orwelliana.
opitana libertadora desta condição maldita de parasita que dormita e apenas se excita, sem uma conquista que o revista de prazer altruísta de receber por apenas dar.
masturbador formatador.
sempre sem dor.
sempre sem prazer.
morres de medo palhaço.
quando é que vais viver porra?
sai da minha cabeça e deixa-me viver.

...

escrevo a preto pois vejo a preto. gostaria de escrever a azul mas não me está no sangue. além de que há por aí muito disso. orgulhosamente e solitariamente a preto. e talvez a vermelho um dia..


arquivo 2005

dead already

in a pool of dead bodies
i breathe in and out
exhaling the breath of death
exhaling my very last breath..

leaving the world as i found it
not different from all the millions
into a red sky i gaze
through the mist and the haze..

neverending throughout history
the rise and fall of a nothing
the disappearance of the disappeared
them who never appeared..

my eyes are shutting slow
my mind disconnecting slow
exhaling my last blow
of my last cigarette..


arquivo 2001

nina perdida na noite

cohen perdido na escuridão
encontro perfeito com a solidão
evasão evasão
sinto que nem tudo está perdido
quando te olho na minha imaginação
na minha fantasia inacabada retalhada
de verdades que nao conheço.

na semi obscuridade sonho-te sem forma
apenas cores e matizes
de sentimentos ainda não completamente apercebidos
onde estás neste mundo que abraço
com desespero e desprezo e que mais?


arquivo 2002

ódio maldito

punhos de sangue coagulado
dedos de sujidade maldita
na minha cabeça coabitam
os meus pesadelos visitam
maldito torpor que me atormenta
que me lamenta
como se fora uma memória destroçada
que se fodam aqueles de visão toldada
que julgam saber o porquê da minha dor
odeio-os
hipócritas masturbadores do pesar alheio..


arquivo 2002

vodka pedra

arranha a garganta este vodka que engulo
esquece o amanhã, matámo-lo ontem
vamos aproveitar mais um dia de abandono
neste mundo de sonhos pré-fabricados..

acende mais um charro e não penses nisso
quem tu és não te interessa mais
amanhã vamos matar os nossos filhos
já que ontem matámos os nossos pais..


arquivo 2003

negro negro

negro negro rodeia volteia à minha beira, justifica o medo. sentimento autista de angústia constante delirante sufocante e tantos mais antes quanto os bastantes para justificar mais um fracasso dos sentimentos dominantes das minhas matizes pensantes. rimas e mais rimas estúpidas sem sentido apenas para dizer que não te tiro da cabeça..

em viagem..

anseio por teu delicado toque,
em mais um dia cinzento que me compreende
e que penetra no meu ser, nesta incessante permanência de ti no negro do meu coração
e do meu corpo alquebrado pelo medo.

findará aqui a nossa busca?

a parte minha que é tua e que diz "vive",
acredita ainda, apesar das longas quebras prematuras.
a minha outra parte que tambem é tua e que diz "existe", diz-me que todo este ódio que carrego para o que resta de mim não te fará amar-me.

mais um dia passa e a saudade de um futuro nosso intensifica-se, traz à minha tona aquilo que tenho de teu dentro de mim.
e apenas por alguns momentos, nos encontramos juntos na minha esperança.

para ti

hei-de cantar-te versos de alvorada e canções de entardecer. hei-de fazer parte do teu ser, pois já no meu entraste, sem à porta bater.
invadiste-me de forma tal que agora sinto tudo,
até mesmo o banal passar dos segundos.

...

os centímetros do teu corpo são mundos a descobrir
por estas mãos trémulas,
que há muito não percorrem já os mapas do desejo.

o grito calmo dos teus olhos
chama-me numa impossível recusa.

afundo-me assim nesse mar inexplorado
desejado porque tão próximo de mim.

sorriso o teu, grande do tamanho da tua alma,
pronto sempre a iluminar a minha,
arrancando-me à agiota e quase eterna morbidez,
é de novo a vida que me chama quando te sinto próxima, frágil na tua imensa força de mulher,
furacão alucinado de vida.

solidóes

estás tu aí na tua solidão masoquista e eu aqui na minha solidão estúpida.
estamos na mesma portanto.
a acrescentar que te amo e como tal, ganhei, consigo sofrer mais que tu.

mas algo me diz, e penso que será esta idiota e vazia esperança que me tolhe a vida, que estaremos ainda juntos na nossa solidão, menos masoquista e menos estúpida também.
a acrescentar que te amarei ainda e quem sabe tu me amarás a mim.
ficaremos assim talvez menos sozinhos no empate das nossas solidões.

primeiro

para este primeiro, quero apenas deixar os votos a mim próprio de que venham muitos por aí..
e uma pequena mensagem para alguem que é muito em mim:

serias a minha felicidade zipada, apenas estivesses para aí virada..